Em 20 de novembro é comemorado o Dia da Consciência Negra, em homenagem à morte de Zumbi dos Palmares, um dos líderes do movimento negro e antiescravocrata. De acordo com especialistas uma das alternativas mais eficientes contra a discriminação racial é criar ambientes de diálogo para falar sobre a educação inter-racial nos primeiros anos de vida. “A cultura antirracista deve ser abordada na escola por ser este um espaço onde alunos e professores têm a oportunidade de construir o conhecimento a partir da diversidade de pessoas que ali frequentam. Também é neste lugar que a herança cultural colonialista se manifesta através do racismo. Na escola o preconceito e a discriminação podem ser desconstruídos a partir da educação das relações étnico-raciais nas quais o processo de revisão de práticas e atitudes sejam constantes”, pontua a professora Tânia da Silveira, Integrante do Movimento de Consciência Negra Palmares e coordenadora do Fórum de Entidades Negras São Leopoldo.
De acordo com Tânia, as crianças aprendem a ser racistas, muito devido ao racismo estrutural, presente na sociedade e nem sempre tão perceptível aos olhos. Por isso, é importante que os pequenos sejam ensinados desde o início através de propostas lúdicas que facilitem o entendimento. “A abordagem da cultura antirracista com as crianças pode ser feita a partir da contação de histórias nas quais heróis e heroínas negros(as) estejam presentes. Também a partir de jogos e brincadeiras nas quais professores (as) desmistificam o simbólico negativo que foi construído com as pessoas negras”, detalha.
A música no combate ao preconceito
A trajetória da banda 50 Tons de Pretas, formada pelas vocalistas, instrumentistas e compositoras Graziela Pires e Dejeane Arrue, é permeada por uma postura de fazer música que fala sobre a cultura afro-brasileira. As vozes da campo-bonense Graziela e da porto-alegrense Dejeane têm ecoado em assuntos que vêm ganhando um espaço maior: a luta contra o racismo. Para essa dupla que ama a música, a arte tem um papel fundamental nesse processo. “A arte sensibiliza, abre o outro para te ouvir e no momento que está aberto, consegue trocar essas informações e ganhar aliado para essa luta. Se não a gente fica sempre falando para os mesmos, falando para nós, parece que a coisa não muda” , completa Grazi, também musicoterapeuta.
O 50 Tons de Pretas surgiu em 2017, em Campo Bom. Professoras de música da rede pública, Dejeane e Graziela foram convidadas para uma apresentação especial de Dia da Mulher. A apresentação foi um sucesso e o projeto se estabeleceu. A banda que as acompanha nos shows é formada por João Costa (bateria), Vladimir Godoy (baixo) e Gustavo Nunes (violão).
Destaque na cena musical gaúcha nos últimos anos, tanto por sua qualidade artística quanto pelo engajamento em lutas sociais e antirracistas, o duo 50 Tons de Pretas lança seu disco de estreia, Voa, nesta sexta-feira, 20. O álbum estará disponível nas plataformas digitais de música. Elas escolheram lançar o primeiro álbum no Dia da Consciência Negra por ser esta uma data especial. “É uma data que nos faz refletir sobre o racismo, sobre tudo que existe em volta desse tema. Mas acho também que é uma data de resistência. Nós costumamos dizer que duas mulheres pretas, gaúchas, no sul do país, lançar um disco em 20 de novembro é um ato de resistência”, destaca Dejeane, que completa “Também é para exaltar as coisas boas, uma data especial para a gente colocar em pauta as nossas conquistas, que não são fáceis. Colocar um disco na rua em plena pandemia não é fácil. É um ato de resistência”.