Muito carinho no acolhimento e kits de materiais escolares marcaram o momento de reencontro com colegas e professores
“Lá em casa, a gente perdeu tudo!”, “Era uma cena de guerra!”, “Uma catástrofe!”, esses são apenas alguns, certamente os mais repetidos, relatos de alunos da EMEF Princesa Isabel, na volta a suas salas de aula, na manhã de terça-feira, 21, no bairro Barrinha. Foi o retorno dos 112 estudantes depois de 21 dias de escola fechada em função das duas enchentes que invadiram o prédio do educandário. Também está voltando à rotina a EMEI Princesinha, que funciona no mesmo prédio da Princesa Isabel. Na terça-feira, 21, foram acolhidas 26 crianças do pré, de um total de 60 alunos da Educação Infantil. Essas duas escolas foram as mais atingidas pelas águas do Rio dos Sinos, mas, pensando nos pais que precisavam trabalhar e não tinham local para deixar seus filhos, os alunos foram direcionados para outros educandários da rede municipal. “Quem, por opção da família, não compareceu às aulas nesse período, não sofrerá prejuízo com faltas e perda de conteúdos”, assegura a secretária de Educação e Cultura, Simone Schneider.
E na volta à sua escola, as crianças da Princesa Isabel e da Princesinha, além do reencontro com os colegas, o carinho da equipe diretiva, dos professores e dos demais funcionários, contaram com a visita de “anjos da solidariedade” que lá estavam entregando kits de materiais escolares para todos. Também esteve presente uma personagem especial, a Princesa Bebete, interpretada pela professora Bete, que distribuiu abraços, beijos e muito carinho a todas as crianças. O objetivo dessa calorosa acolhida é que os alunos se recuperem, o mais rápido possível, do trauma de ver suas casas invadidas pela enchente, muitas delas perdendo suas roupas, seus brinquedos, seu material escolar.
IMPACTO EM TODA A REDE ESCOLAR
A maior enchente já registrada na história de Campo Bom, ocorrida no início de maio, seguida por outra inundação poucos dias depois, impactou de maneira significativa toda a comunidade escolar, incluindo pais, alunos e professores, principalmente das escolas dos bairros mais atingidos. Do total de 43 escolas de Educação Infantil e de Ensino Fundamental da rede municipal, seis foram atingidas diretamente pelas enchentes. Dessa forma, o auxílio para a reorganização e retomada prestado pelas demais escolas na limpeza, na doação de brinquedos, livros e outros materiais, foi muito importante. “Essa retomada só foi possível devido ao envolvimento da comunidade como um todo, ao esforço das equipes diretivas, professores, funcionários, voluntários e de todos que de alguma forma contribuíram para a reorganização dos espaços”, destaca o prefeito Luciano Orsi.
Quatro das seis escolas atingidas já haviam retornado às aulas em seus espaços, e seus alunos também foram recebidos pelas equipes diretivas, funcionários e professores com momentos especiais, juntamente de suas famílias, com atividades lúdicas e de acolhimento. A EMEF Presidente Vargas e a EMEI Amiguinho, no bairro Operária, voltaram no dia 13. A Octacílio Fauth e a Dedinho de Ouro, no bairro Vila Rica, ficaram fechadas nos dias 3, 6, 7 e 8 de maio.
Essas escolas que não puderam atender os alunos em seus respectivos espaços foram realocadas em outros educandários da rede municipal. A EMEF Princesa Isabel teve seus alunos atendidos na EMEF 25 de Julho e a EMEI Princesinha encaminhou os seus para a Dedinho de Ouro e Chapeuzinho Vermelho.
A EMEF Presidente Vargas, atingida diretamente pela enchente, com inúmeras perdas, teve o apoio da comunidade, professores e funcionários, que organizaram e prepararam o recomeço junto aos alunos. Todos foram recebidos com uma faixa de boas-vindas, cartões com mensagens positivas e um mimo, além de um mural decorado com a frase “Que a vontade de aprender seja a nossa motivação para recomeçar.” Os professores fizeram rodas de conversa e escuta sensível com os alunos. Cada turma também produziu um painel com mensagens de esperança para compartilhar com os demais colegas. Os alunos dos anos iniciais receberam cartinhas de alunos da EMEF Marquês do Herval, contribuindo com essa corrente de solidariedade.
Na EMEF Octacílio Fauth, o trabalho de organização e limpeza da escola já iniciou quando as águas estavam baixando e a escola ainda não tinha luz. A equipe diretiva e os funcionários foram para lá para conferir os estragos, arrumar e limpar, fazendo o que fosse possível naquele momento para a retomada das aulas. Limparam, pintaram e decoraram os espaços para receber essas famílias. Foram 150 alunos atingidos pela enchente, eles precisavam ser recebidos com muito carinho e afeto. Fizeram o Dia do Afeto e cada professor organizou atividades diferenciadas com brincadeiras. Ainda na aula de Educação em Tecnologias, após a audição de uma história, os alunos produziram livrinhos para distribuir às crianças que estão em abrigos.
A EMEI Amiguinho também recebeu os alunos e familiares na retomada das aulas com a frase “Vai ficar tudo bem!”, como forma de acolher a todos com muito carinho e conforto. A equipe escolar, juntamente com voluntários, se empenhou para deixar a escola limpa e acolhedora novamente. No retorno das crianças, a equipe diretiva esteve com as turmas para ouvi-las e dizer que estavam com saudades de todos. Ouviram histórias relacionadas à situação atual e realizaram diversas atividades, integrando a todos.
CORRENTE DO BEM
Como tem ocorrido em vários municípios do Rio Grande do Sul, Campo Bom também teve muitos exemplos de amor ao próximo e empatia. Um desses exemplos ocorreu na volta das aulas na Barrinha. Graças a uma corrente do bem que começou com apenas algumas amigas, 160 kits de material escolar foram entregues aos alunos. A professora Daiane Saenger, do Colégio Sinodal Tiradentes, foi quem levou os kits para distribuição entre as crianças. “Nossa corrente do bem, rapidamente, se espalhou por toda a comunidade e juntos, arrecadamos materiais escolares para essas crianças que passaram por momentos tão difíceis. Foi incrível ver a solidariedade e generosidade das pessoas ao se juntarem a nossa causa. Cada doação fez a diferença na vida dessas crianças, mostrando a elas que não estão sozinhas”, relatou a professora.
“Sabemos que não podemos resolver todos os problemas causados pelas enchentes, mas podemos ao menos trazer um pouco de alegria e esperança para essas crianças. Que a corrente do bem continue se fortalecendo e inspirando outras pessoas a fazerem o mesmo. Juntos, podemos transformar vidas e fazer um mundo melhor para todos”, concluiu a profe Daiane.