Após oito meses de trabalho, entre oficinas e produção, o CD do projeto piloto “RAPensando a educação” foi concluído e entregue aos alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Borges de Medeiros. Desenvolvido através da parceria entre Wesley Sales do grupo Além dos Muros e a professora de música Mayara Leal, a iniciativa contou com o apoio das professoras de português Natália Silva e Tereza de Carvalho. Com o material em mãos, os estudantes comemoram a finalização do trabalho pioneiro em Campo Bom que reúne 19 composições produzidas em sala de aula. “Não dá pra acreditar né? Agora a gente tem as nossas músicas gravadas. Quantas pessoas sonham com isso e nós conseguimos realizar”, comenta o aluno do 8º ano, Edemilson Braga,14 anos.
As oficinas, que levaram a cultura hip hop para dentro da sala de aula como instrumento de ensino foram desenvolvidas inicialmente na instituição do bairro Celeste, onde 408 alunos do 6º ao 9º ano participaram das aulas desde o dia 22 de abril. Para a professora de música Mayara Leal, um dos diferenciais do projeto foi levar a linguagem do rap para o debate. “É importante utilizar essa cultura nas escolas das periferias, o próprio hip hop nasceu de movimentos de resistência nas periferias, onde estão os menos favorecidos. Quando se trabalha o hip hop a favor da aprendizagem, coloca-se essa cultura no lugar que é dela, a favor dos territórios educativos. As crianças e os jovens crescem fazendo uso de sua capacidade de pensar, de indagar, de duvidar e de experimentar”, argumenta Mayara.
“Para o mundo ouvir”, “Os anônimos “ e “A vida não é só sol”, são algumas das músicas que compõem o CD que contou com a produção musical de Junior Mônaco.
Ferramenta de transformação
As oficinas didáticas, abordaram temas como a produção musical, a escrita dos poemas, as letras dos MC’s, como cantar e os tipos de rimas, onde os estudantes foram instigados a criar e se expressar falando de temas que antes não eram tratados na escola. “O hip hop é uma ferramenta de diálogo, ele pode mudar vidas. Mudou a minha e eu sei que pode mudar o futuro de muitos destes alunos. Hoje, para mim é um dia muito especial pois estamos concluindo um projeto que foi pensado, embasado e executado com muito empenho e carinho”, revelou Sales.
A proposta em 2020 é ampliar a iniciativa e trabalhar outros elementos dentro do RAPensando. “Já estamos com o projeto pronto e no próximo ano queremos inserir um b-boy e a presença de um produtor musical durante as oficinais. Assim, além de compor as próprias músicas os alunos irão aprender a coreografar e fazer a produção musical”, explicou Sales, que salienta o apoio e o incentivo da Secretaria de Educação e Cultura desde o início do projeto. “Todas as iniciativas que unem cultura e educação são positivas. Para os alunos do Borges, foi uma oportunidade de sair do óbvio e da zona de conforto, para fazer arte e expressar os anseios da gurizada”, afirmou Renata Silva, Coordenadora de Cultura de Campo Bom.
Com tiragem inicial de 100 unidades, que foram distribuídas para os participantes do projeto e coordenadores, as faixas do CD RAPesando a Educação também podem ser conferidas no site (www.alemdosmuros.com) ou no canal no You Tube do grupo Além dos Muros. No canal também é possível assistir os cinco episódios do documentário feito durante a produção das músicas.
Elas disseram
“Eu adorei participar do projeto e não tô acreditando que conseguimos gravar o nosso CD. Pra mim foi uma experiência transformadora, porque conheci uma cultura diferente cheia de elementos e possibilidades de transformação e expressão”, Maria Clara Bandeira, 13 anos, 7º ano.
“Aprendi muitas coisas que sempre tive curiosidade e não tinha para quem perguntar. O RAPensando mudou a rotina da escola e deu a chance para gente falar o que antes era tabu na sala de aula”, Milena Muller, 13 anos, 7º ano.