Prefeitura diz que local funciona como uma bacia de deposição de esgoto doméstico.
Forte odor e coloração estranha. Essas são as características utilizadas por um grupo de moradores do bairro Aurora, em Campo Bom, para definir as condições da água do Arroio Schmidt. De acordo com os campo-bonenses, o líquido, no local, está apresentando mau cheiro há cerca de dois meses. A comunidade diz que o problema não é comum e que vem se agravando desde o início do ano.
Residindo há mais de 60 anos no bairro, o aposentado Juarez da Costa, 63 anos, afirma que está surpreso com a situação. “Antes, era tudo bem limpo dava até pra tomar banho e pescar, e agora a água tá escura e com esse cheiro insuportável. Até o ralo do banheiro eu tampei achando que o cheiro vinha de lá, mas era do arroio. Fica ruim para nós, porque tem várias crianças que brincam por perto e acho que pode ter algum tipo de veneno sendo jogado aqui porque não deve ser de esgoto”, comenta”.
O que mais atrapalha a dona de casa Solange Vicente, 46, que mora na Rua Alvorada, próximo ao arroio, é o odor. “Tem dias que não dá pra ficar com as janelas e as portas aberta por que vem um fedor muito forte parece uma carniça”.
Problema se arrasta por três décadas
A Secretaria do Meio Ambiente (Sema) de Campo Bom esclarece que o “lago” formado pelo alargamento e barragem do Arroio Schmidt, no bairro Aurora, funciona como uma bacia de deposição de matéria orgânica. “Trata-se de um problema complexo de mais de trinta anos. Na década de 1980 a empresa proprietária da área construiu uma barragem e acabou formando uma grande lagoa. Com a rápida urbanização dos bairros Aurora e Ipiranga, praticamente todo o esgoto doméstico e por vezes industriais acabou sendo lançado para essa lagoa. Por consequência, acaba acumulando os sedimentos do esgoto de todos os moradores dos dois bairros. Somado a isso, se proliferam as marrequinhas (aguapés) e inicia uma decomposição sem oxigênio, que libera esse cheiro ruim. Além disso, tem o problema dos descartes irregulares de lixo no local que também é um fator que contribui com o agravamento do problema”, comenta João Flávio da Rosa, secretário do Meio Ambiente.
O problema, segundo o secretário se agrava com o calor e baixa do regime hídrico no verão. “A baixa vazão do Arroio Schimidt devido a previsão de mais uma seca rigorosa, agravado com o continuo lançamento de esgoto para o açude a tendência é que infelizmente o problema se estenda por todo o período da estiagem”, observa.
Solução definitiva exige tratamento de esgoto e regularização fundiária
João Flávio explica que o local tem um problema crônico de lançamento de esgoto cloacal que chega tanto pela rede mista quanto in natura, de áreas irregulares. “Praticamente todo o esgoto gerado nos bairros Aurora, Ipiranga e de algumas casas no Imigrante Norte são lançados sem nem um tratamento para a lagoa. Em relação a ocupação dos moradores próximos do campo do Independente existe um compromisso da atual administração de remoção das famílias para uma área próxima que inclusive já está com terraplanagem concluída, dependendo da aprovação dos projetos na CORSAN. O loteamento será provido de toda a infraestrutura necessária, inclusive a construção de uma estação de tratamento de esgoto Coletiva para tratar os dejetos dos moradores e evitar o lançamento para o açude”, detalha o secretario, frisando que as medidas seriam a solução definitiva do problema.
Já um paliativo para o problema, que se intensifica nos meses de calor, seria a remoção das marrequinhas (aguapés) da superfície da lagoa, e a médio prazo a instalação de uma rede mista de coleta do esgoto. “Basicamente será a colocação de um cano na beira do arroio interceptando todo o esgoto que chega por vários canos menores e lançar a jusante da lagoa além de seguir fiscalizando as empresas no entorno quanto a possíveis lançamentos irregulares”, completa.