Grupo de voluntários oferece refeições completas a comunidade Bicho de Pé, no bairro Aurora
Por Giordanna Vallejos
No período desafiador da pandemia, quando muitos se viram em situações de vulnerabilidade e incerteza, Liane Corrêa da Silva Lorenzi teve uma ideia que mudaria a vida de diversas pessoas.
Motivada pela vontade de fazer a diferença, ela deu início ao projeto Cozinha do Amor, resgatando uma antiga prática de oferecer sopa para famílias carentes. Desde então, o projeto cresceu e se transformou em uma verdadeira rede de solidariedade, oferecendo refeições quentes e nutritivas para dezenas de famílias, todas as quintas-feiras.
Um projeto que acolhe
Sob a coordenação de Liane Corrêa da Silva Lorenzi, a Cozinha do Amor ganhou vida durante a pandemia, encontrando em uma das casas da Fonte de Luz, um espaço cedido para preparar as refeições. Inicialmente, eram produzidas de 60 a 90 marmitas por semana, mas o projeto foi se expandindo e hoje atende incríveis 79 famílias semanalmente, com a entrega de 165 marmitas. A escolha do local foi estrategicamente feita na comunidade Bicho de Pé, no bairro Aurora, onde a necessidade de auxílio era evidente.
“Na pandemia, vi um monte de pessoas esperando comida, pensei, agora que é a hora de fazer alguma coisa. Falei com a Jô e ela apoiou a ideia de fazermos pela Fonte de Luz. Assim iniciou o projeto, e a equipe só foi crescendo. Temos uma média de 15 pessoas ativas na tarefa, mas há todo outro grupo que busca os alimentos”, conta Liane.
A preocupação em atender às necessidades das famílias vai além das refeições. A Cozinha do Amor também proporciona apoio com roupas através do projeto Quadradinhos que Aquecem, onde as crianças recebem doações para garantir conforto e bem-estar. “É uma gotinha no oceano, mas é o que a gente pode fazer. Precisamos sempre de doações de alimentos, principalmente alimentos secos, como arroz, feijão, lentilha e soja. Recebemos alimentos do banco de alimentos. Se sobra uma comidinha, vendemos para nós mesmos e pagamos pela nossa marmita, para termos dinheiro em caixa”, explica Liane.
Alimentação saudável e consciente
Ao aderir ao projeto Cozinha do Amor, a nutricionista Cristiani de Lima teve a oportunidade de levar uma nova perspectiva alimentar para as famílias atendidas. A proposta de oferecer refeições veganas foi prontamente aceita, pois além de facilitar o armazenamento, os alimentos veganos promovem uma consciência alimentar e promovem a saúde.
“Elas prontamente aceitaram a minha proposta de fazermos a alimentação vegana, porque são alimentos mais fáceis de armazenar, como grãos, e promovemos esse outro olhar de poder levar para as pessoas possibilidades do que elas podem fazer sem carne e ovos. Até hoje só tivemos elogios. Toda semana fazemos um cardápio diferente. Nossas verduras são todas orgânicas, recebemos produtos quando termina uma feira, então conseguem nos doar”, comenta Cristiani.
Além das refeições, as famílias também recebem contribuições extras, como frutas, pães e saladas, tornando a marmita uma refeição completa e nutritiva. A Cozinha do Amor busca não apenas saciar a fome, mas também mostrar que uma alimentação adequada pode ser acessível e saborosa, sem a necessidade de sacrificar vidas de animais.
“Enquanto uns estão preocupados se estão atingindo a proteína do dia, outros não têm acesso a nada”
A visão de Cristiani de Lima vai além das marmitas semanais. Seu sonho é estabelecer um restaurante popular, um lugar onde as pessoas possam sentar, compartilhar refeições e desfrutar de um momento de acolhimento e dignidade. Independente da religião, a proposta é oferecer um ambiente inclusivo para todos.
“Meu sonho seria um restaurante popular, onde a pessoa pudesse vir e sentar para comer no lugar. A gente vai acolher a pessoa, independente da religião, e os voluntários também podem participar sendo de qualquer religião, mesmo o projeto sendo vinculado ao espiritismo. Enquanto uns estão preocupados se estão atingindo a proteína do dia, outros não têm acesso a nada”, compartilha Cristiani.
Entregando esperança
Responsável pelas entregas das marmitas, Ronaldo Luongo, tem um vínculo especial com as famílias atendidas. Além de garantir que as refeições cheguem em segurança, ele estabeleceu laços de amizade e empatia com cada uma delas.
“Primeiro, a gente verifica se são do bairro, a situação financeira, e quando eu faço o novo cadastro, monitoro a necessidade deles. Conforme eles vão faltando, vou tirando da lista. São 165 marmitas que fazemos por semana. Hoje nós temos um vínculo de amizade com eles. Eles se sentem acolhidos, que tem alguém que se preocupa com eles. Tem lugares que entregamos e a pessoa não tem fogão, geladeira, não tem nada. A cama é só um colchão”, relata Ronaldo.
As famílias beneficiadas pela Cozinha do Amor expressam sua gratidão, desejando bênçãos e mais pessoas preocupadas com aqueles que mais precisam. Para eles, a ajuda não é temporária, mas sim uma luz em meio à escuridão, proporcionando um alento e a esperança de dias melhores.
A Cozinha do Amor é uma prova viva de que, mesmo diante dos desafios, a união e a compaixão podem fazer a diferença na vida das pessoas. Essa iniciativa inspiradora nos lembra que, juntos, podemos transformar o mundo em um lugar melhor, onde ninguém seja deixado para trás – uma marmita de cada vez.