Por Giordanna Vallejos
Com 60 hectares de extensão e uma densa floresta, a Mata Leste é o lar de espécies em extinção e de árvores centenárias. Toda essa riqueza agora está protegida, com a implantação da primeira unidade de conservação de Campo Bom, o Parque Natural Municipal da Mata Leste.
O espaço é um dos fragmentos mais importantes de vegetação que ainda existe na região, por ter uma mata em estágio avançado de conservação, sendo uma das mais antigas do Vale dos Sinos. Ao olhar para a floresta, é possível vislumbrar espécies variadas de grandes árvores, que se erguem majestosas, sendo algumas tão altas que não é possível visualizar o seu topo. Suas raízes proeminentes marcam o chão da Mata Leste, coberto por uma densa camada de folhas e marcado por algumas tocas de animais que habitam por lá.
Além disso, cipós contorcidos e volumosos se unem entre uma árvore e outra. Os raios de sol transpassam tímidos, pela densa vegetação. Algumas árvores do local têm mais de 100 anos. Com a mata praticamente intocada, é possível ter a visão de como a região era na época que os colonizadores chegaram. Como se a própria floresta fosse um museu a céu aberto, pulsando a vida do passado.
Um dos fragmentos mais importantes do Vale dos Sinos
O biólogo Jeferson Timm, explica a relevância da preservação dessa floresta. “Esse é um dos fragmentos mais importantes de vegetação que ainda tem na bacia do Rio dos Sinos, e talvez a mata mais antiga da região, onde temos espécies de plantas que não são mais encontradas em outras regiões. Temos uma biodiversidade ímpar, uma biodiversidade que originalmente cobria toda essa região e só restou esse fragmento. Esse local já foi explorado, foram retiradas algumas espécies de interesse madeireiro, mas uma boa parte das espécies foram conservadas”, disse ele.
Pioneira, secundária e climácica
Jeferson Timm explica que existem três estágios de vegetação: a pioneira, a secundária e a climácica. Segundo ele, quando a área está degradada crescem as pioneiras, depois vem as secundárias e por fim as climácicas, que são plantas de dispersão com animais. A Mata Leste se enquadra na climácica, por isso, é mais antiga, rara, e boa parte das espécies do local produzem frutos.
Projeto VerdeSinos
“A identificação desse fragmento florestal, com 60 hectares, como de relevância, foi feita pelo ComitêSinos, dentro do projeto VerdeSinos. A equipe do comitê identificou que esse é um dos mais importantes, senão o mais importante, remanescente florestal da cobertura original das florestas do Vale dos Sinos. Quando os colonizadores chegaram aqui, as florestas tinham esse aspecto, antes de serem impactadas, por isso, essa área merece ser preservada”, relata o biólogo.
O início do projeto
O secretário de Meio Ambiente, João Flávio da Rosa, conta que a ideia de transformar a Mata Leste em um Parque Municipal vem sendo desenvolvida há muitos anos. “Tivemos acesso ao local através da Unisinos. A partir disso, começamos a fazer um planejamento, pensando em instalar uma reserva ambiental aqui. O município já tinha uma parte da área, que compõe a usina de reciclagem e com desapropriações, a área vai chegar a 60 hectares. Sabemos a relevância que tem para a região, porque temos espécies ameaçadas que merecem ser protegidas. O município prepara toda a questão legal de implantação dessa reserva para ser um Parque Municipal, que ela seja aberta, com controle, para a população poder ver esse patrimônio do município. Vamos fazer todo o processo legal para instituir o Parque Municipal de Campo Bom. Mapeamos as espécies com pesquisadores, temos trabalhado mais de cinco anos para transformar isso em realidade”.
Audiência pública
Como parte da programação da Semana do Meio Ambiente, no sábado, 3, haverá uma audiência pública para a implantação do Parque Natural Municipal da Mata Leste, às 9h, na Câmara de Vereadores. Toda a comunidade pode participar deste momento. Após concluídos os processos legais, a administração pretende fazer o cercamento do espaço, bem como criar trilhas guiadas, que poderão ser visitadas por escolas e pela comunidade. Para que além de um espaço de preservação, o local possa ser utilizado para a educação ambiental e pesquisas.