Duas vezes por semana, 50 alunos da EMEF Morada Do Sol, zona Leste de Campo Bom, participam no contraturno escolar do Projeto Atletismo. Entre mais de vinte modalidades existentes no esporte, apenas o salto com vara não é praticado. As aulas que iniciaram em 2014 desenvolvem habilidades em diversas modalidades de corrida, revezamento, arremesso e lançamentos de peso, martelo, disco e dardo, entre outros. E o que começou como uma alternativa para os estudantes da escola que na época tinha apenas dois anos de inauguração, competirem na Olimpíada Escolar Municipal, hoje é referência na descoberta de novos talentos. De janeiro ao mês de setembro foram conquistadas 102 medalhas em competições municipais e regionais. “Sabíamos que em outras modalidades não teríamos chance na disputa com as demais escolas, por isso o atletismo surgiu como uma opção que foi bem aceita desde o princípio. A escola não possuía contraturno escolar na época e nós abrimos a primeira opção”, relembrou Lucas Zabot, professor de Educação Física e idealizador do projeto.
Foi no improviso que o sonho do professor foi se tornando realidade. Parte do material foi fornecido pela Prefeitura, mas, como o atletismo é amplo e diverso, a comunidade escolar abraçou a causa e arregaçou as mangas. Com doações e eventos na escola mesmo, como brechós e vendas de cachorro-quente, aos poucos os materiais para os treinos foram conquistados. “Ainda falta muita coisa, que tornaria a preparação deles mais fácil e eficiente. Por isso sempre contamos com a colaboração de pessoas que quiserem sonhar alto junto com a EMEF Morada do Sol a nós procurarem. Toda a ajuda é bem-vinda”, revelou a diretora da instituição, Ursula da Silva.
Esporte como aliado da escola
Na Morada do Sol, o incentivo à prática esportiva surge ao lado do ensino. Para os estudantes do Pré ao 9º ano do ensino fundamental, que participam da equipe, a rotina escolar anda junto dos compromissos esportivos, como treinos e competições.
Aluna do 9º ano, Priscila Gomes, 15 anos, faz parte da equipe de atletismo e ocupa seu tempo com as aulas durante a manhã e os treinos duas vezes por semana no período da tarde. “Antes de entrar para a equipe eu sempre gostei de esportes, mas confesso que não conhecia muitas das modalidades do atletismo. Hoje não vejo a minha vida sem praticar esporte”, afirma.
Neste ano, Priscila conclui o nível Fundamental e se despede da instituição. Sem perspectiva de onde e nem como poderá continuar treinando e competido, a jovem atleta sonha. “Fico um pouco triste, porque não sei se na escola aonde vou estudar no próximo ano terão aulas de atletismo. Tomara que sim, eu estou torcendo muito para isso”, emociona-se a estudante que já praticou diversas modalidades no atletismo mas vem se destacando no arremesso de dardo.
Raissa Lima, 13 anos parece que tem rodinhas nos pés. A menina está voando nas pistas. Somente na etapa do dia 9 de setembro dos Jogos Escolares do Rio Grande do Sul (JERGS), disputada na Unisinos, em São Leopoldo, ela conquistou três medalhas. Duas de ouro (revezamento e 250m) e uma de prata (distância). Ela é uma das apostas do atletismo. “Pra mim mudou tudo desde que iniciei no projeto. Nunca tinha imaginado competir e hoje nós vamos para outras cidades e o pessoal agora está começando a conhecer a equipe do Morada do Sol. Antes não era assim, por muito tempo nós éramos os “azarões”. Isso é o resultado do nosso trabalho aqui, dentro da escola”, comenta Raissa, que já perdeu as contas de quantas vezes já subiu ao pódio nestes cinco anos participando do projeto.
Quem olha para Kahuany da Silva, 14, do alto dos seus 1.40 de altura não imagina como ela fica gigante competindo. Destaque na corrida de 800m, a pequena notável não consegue mais colocar no pescoço todas as medalhas que já conquistou no atletismo. Com um sorriso largo a estudante do 9º ano projeta um futuro promissor no esporte. “Gosto de tudo um pouco. Treinamos em todas as modalidades, o que me fez gostar do atletismo em si e com o passar dos anos fui me familiarizando mais com a corrida”, revela.
Formação de novos atletas
A diretora da instituição, destaca ainda a relação entre os alunos e os atletas. “Eles passaram a ser exemplo, uma mostra disto é o grande número de estudantes das séries iniciais que se interessam pelo contraturno. Além disso, entre eles existe uma maior interação e companheirismo. A parceria deles reflete e, muito, tanto no meio escolar como na vida pessoal deles”, explica.