Cerca de 11,7 milhões. Além de número, pessoas. Não somente pessoas ordinárias, mas sim, que venceram a Covid-19 e que, aliviadas, comemoram a “liberdade” da cura após dias de luta. São muitos Joãos, Marias, Josés, Anas. Nomes comuns – e às vezes incomuns – mas que carregam histórias de vida e superação diante de uma doença que vem mexendo com todos. O AG criou a série SobreViver para contar algumas destas histórias de superação. Confira:
Naama Laísa da Rosa Scharlau, de 29 anos, casada, precisou ser internada duas vezes após positivar para Covid-19, uma por pneumonia bacteriana e viral extensa, outra por miocardite – nome dado à inflamação do músculo do coração, em casos graves pode enfraquecer o coração, o que pode causar insuficiência cardíaca, frequência cardíaca anormal e morte súbita.
“Eu tive sequelas pós covid, que é a fase que não é muito divulgada mas é a pior”, relata. “Descobri a covid devido a uma dor de garganta e cansaço. Liguei o cansaço ao trabalho, pois atuava em duas UTIs, na época, na linha de frente e estava exaustivo. Tenho dor de garganta a cada mudança de tempo, então não me preocupei. Fiz o teste quando um técnico de enfermagem que trabalhava próximo a mim positivou. Então descobri que meus sintomas eram da covid”.
Em seu relato, ao decorrer dos dias os sintomas foram piorando, onde teve muita falta de ar e cansaço. Em uma das crises de falta de ar, ela procurou o PA, que ligou a falta de ar a ansiedade. Cinco dias antes de terminar o isolamento, Naama melhorou e findando os sintomas retomou ao trabalho. “Trabalhei uma semana com muita dor e cansaço, a dor nas costas era insuportável e eu me auto mediquei com vários analgésicos e relaxante muscular”, diz. “Sete dias após eu ter saído do isolamento, eu tive uma crise de falta de ar em casa e dor no peito, insuportável, que associei no momento a dor que meus pacientes relatam quando tem infarto. Fui até a emergência da Santa Casa, onde trabalho, realizei angiotomografia que diagnosticou pneumonia bacteriana extensa associada a pneumonia viral e consolidações no pulmão devido ao covid. Tive que internar para tratamento com antibióticos e corticóide endovenoso. Fiquei quatro dias internada e depois ganhei alta para continuação do tratamento em casa”.
Dois dias após a alta, ela começou a sentir arritmias em casa e achou que estava piorando da pneumonia, que seu organismo não tinha aceitado a troca de antibiótico endovenoso para via oral. “Não dormi a noite toda aquela noite, não conseguia respirar e tinha muita dor. Pela manhã, a dor conseguiu se tornar pior e eu não conseguia nem falar, e aí sim era uma dor de infarto, no peito e em forma de aperto”. Naama foi a emergência novamente, realizou angiotomografia que mostrou que suas enzimas cardíacas estavam alteradas e que, de fato, a dor que sentia era a dor do infarto.
“Eu, com 28 anos, na época, sem comorbidades, em uma emergência em protocolo de infarto. Fiquei na UTI dois dias, monitorizada, até realizar exames para descobrir o diagnóstico, que foi de miocardite. Fiquei ao todo 11 dias internada, tratamento com corticóide em doses altas e anticoagulantes”.
Até dezembro (6 meses após a infecção) ela ainda apresentava alguns sintomas agudos. Em fevereiro de 2021 começou a melhorar. “O que eu gostaria muito de dizer para as pessoas, como recuperada e profissional da linha de frente, é que parem de dar ouvidos para vídeos que recebem no Whatsapp e Facebook, e comecem a acreditar na ciência. Que cobrem dos seus governantes a vacina e que se cuidem: saiam somente se necessário, não se aglomerem, cuidados de higiene, principalmente das mãos e uso de máscara! E um pouco mais de compaixão ao próximo. Mais consciência e mais empatia”, finaliza.