Encarar uma maratona de 42 quilômetros já é um desafio para qualquer atleta. Mas, para Daniela Oliveira Rocha, 34 anos, casada e mãe de duas filhas, a corrida teve um significado ainda mais profundo. O esporte, que começou como uma forma de manter a saúde em dia, tornou-se sua principal ferramenta de superação.
A descoberta do câncer
Em janeiro de 2024, durante exames de rotina, Daniela descobriu um nódulo no seio. Inicialmente, parecia inofensivo, mas, quatro meses depois, ao realizar um autoexame, percebeu que o nódulo havia aumentado. Diante da mudança, buscou ajuda novamente e passou por uma biópsia, recebendo uma das notícias mais difíceis de sua vida: o diagnóstico de câncer de mama.
No início, a descoberta abalou a corredora, que precisou se afastar dos treinos para cuidar da saúde. No entanto, com o apoio da família e dos amigos, ela encontrou forças para enfrentar a realidade. “Quando saiu o resultado da biópsia, veio a notícia de que eu não precisaria passar por radioterapia nem quimioterapia. Optei direto pela cirurgia e removi as duas mamas”, conta Daniela.
A recuperação
Após a mastectomia, Daniela iniciou o processo de recuperação e retomada gradual das atividades. Durante as primeiras semanas, precisou usar drenos, o que a impedia de realizar qualquer esforço físico. Aos poucos, começou a retomar a rotina e, em setembro de 2024, apenas dois meses após a cirurgia, voltou com caminhadas.
“Eu não queria me entregar nem me abalar. Disse para mim mesma que meu propósito seria correr uma maratona. Pedi ajuda ao meu treinador e falei: ‘Quero voltar. Sei que não será fácil essa fase, mas quero essa maratona’. E ele topou. Esse foi um dos pilares que me ajudaram”, relembra.
A preparação para a maratona
Transformando a dor em determinação, Daniela iniciou a preparação para a maratona de 42 quilômetros que se propôs a correr como símbolo de sua superação. “Foi um ciclo de quatro meses. Eu já tinha experiência com a meia maratona de 21 quilômetros, mas essa seria minha primeira prova de 42 km, e ainda na areia! Foi um baita desafio e uma superação.”
Com uma rotina intensa de treinos, chegando a percorrer 70 quilômetros por semana, Daniela contou com o apoio dos amigos corredores para enfrentar o desafio. “Eles me apoiaram durante toda a preparação. No final, foi exaustivo, levei meu corpo ao limite, mas, ao mesmo tempo, era algo que eu precisava superar”, destaca.
Propósito alcançado
Daniela participou de uma das competições mais tradicionais do Rio Grande do Sul, a Travessia Torres-Tramandaí (TTT), uma ultramaratona de 84 km. No evento, percorreu a distância oficial da maratona, 42,195 km, completando a prova em 4 horas, 15 minutos e 59 segundos.
O feito se tornou ainda mais especial quando ela descobriu que havia conquistado o primeiro lugar na sua categoria (feminino de 30 a 39 anos) e o sexto lugar no geral feminino.
A vida daqui para frente
Para reduzir as chances de recorrência do câncer, Daniela precisará passar por um tratamento de cinco anos, utilizando medicações que bloqueiam a produção de hormônios.
“Atualmente, faço uso do Tamoxifeno, um medicamento indicado para o tratamento do câncer de mama. Meu oncologista foi direto comigo: ‘A única coisa que pode suprir essa mudança no seu corpo é a atividade física’. Então, decidi incorporar ainda mais o esporte na minha rotina para enfrentar esse período”, explica.
O tratamento impactou seu rendimento nos treinos, mas nada que a impedisse de seguir fazendo o que mais ama: correr.
Daniela encara essa fase com coragem e determinação. “Eu não desisti de mim. Poderia ter encontrado várias desculpas para não voltar aos treinos, mas encarei tudo como uma fase de superação, fazendo o que mais gosto: correr. Muitas mulheres jovens enfrentam o câncer de mama hoje. Se eu puder ser o incentivo para uma, já vai ajudar demais. Que sim, é difícil, mas dá para superar”, finaliza.