Na tarde da última sexta-feira, 19, um jovem negro foi abordado por dois soldados da Brigada Militar em uma parada de ônibus em frente ao seu trabalho no bairro Imigrante. Segundo a família do jovem, os soldados proferiram palavras de cunho racista e ainda o agrediram. Comerciantes próximo ao local filmaram a ação e o vídeo circula nas redes sociais.
A família tentou registrar um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia Civil de Campo Bom e no Ministério Público, onde, segundo a família, ambos se negaram a fazer o registro. Na tentativa na versão on-line, a família alega não ter a opção de crime de racismo e nem de agressão para registros. Na tarde de segunda-feira, 22, acompanhados de um advogado, o B.O. (Boletim de Ocorrência) pôde ser registrado na DP de Campo Bom. “Após tentativas ainda na sexta-feira sem sucesso, hoje (22/06) na companhia de um advogado, conseguimos registrar ocorrência do caso de violência e racismo por parte da Polícia, ocorrido dia 19/06. Durante a semana advogados do Movimento Negro acompanharão a vitima para fazer a ocorrência na ouvidoria da Secretaria Estadual de segurança em Porto Alegre” disse Valter Lemos Junior, irmão da vítima.
Trechos do Boletim de Ocorrência (2410/2020/100930) afirmam que, um dos policiais militares, ao fazer a revista na vítima, lhe desferiu um tapa na boca e chutes nas pernas. Confira o que diz parte do documento: “Na vítima, lhe desferiu um tapa na boca (lesionando) e chutes nas pernas, sendo que não agrediram o seu amigo que foi liberado, pois acredita por ser branco”.
Confira o posicionamento da Brigada Militar
De acordo o comandante da Brigada Militar campo-bonense, capitão Tiago Reimann, a abordagem ocorreu durante o patrulhamento de rotina da corporação depois que os policias identificaram que o jovem estava consumindo substâncias entorpecentes. “Devido à posse de drogas foi lavrado no local um termo circunstanciado, além de se negar a assinar o documento o rapaz afirmou que a abordagem era ilegal e que a Brigada Militar não poderia abordar ele. Devido à negativa, ele foi algemado e estava sendo conduzido à Delegacia de Polícia Civil do município quando voltou atrás e assinou o terno. Tão logo ele assinou o documento foi liberado”, detalhou Reimann.
Ainda segundo o comandante da BM, a corporação já analisou o vídeo que circula nas redes socias e não foi constada agressão ou injúria racial. “No vídeo em nenhum momento é registrado tanto o tapa como os chutes ou xingamentos. Até tem uma pessoa que fala que o BM deu um tapa no rosto do jovem, mas em nenhum momento o video mostra a tal agressão”, afirma, pontuando que a acusação de racismo também não é constatada. “Até porque ele foi abordado por um policial militar negro e no registro de ocorrência ele relata o abuso de autoridade e agressão, que na visão dele teriam ocorrido em virtude de ser negro”.
A Brigada Militar afirma ainda que com base no boletim de ocorrência o caso será encaminhado para abertura de procedimento investigatório interno. “Já reunimos a documentação necessária e será remetida ao comando superior para abertura de procedimento investigatório para apurar as supostas agressões e se houve realmente alguma injuria racial por parte dos policiais”, pontua Reimann.