Ao contrário do que ocorreu no Estado onde houve queda de 24,1% no número de homicídios, saindo de 2.362 assassinatos para 1.793, os homicídios dolosos (intencionais) cresceram 100% no último ano em Campo Bom. Foram computadas dez vítimas desse tipo de crime entre janeiro e dezembro de 2019, contra as cinco registradas no mesmo período de 2018. Esses números fazem parte dos dados estatísticos divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul (SSP) na última semana.
A alta dos homicídios em 2019 interrompe a queda brusca da criminalidade do ano anterior, ficando atrás apenas no número total de vítimas acumuladas em 2015, período considerado o mais violento no município, onde foram registrados onze assassinatos ao longo do ano. “Infelizmente o homicídio ainda é um crime que não conseguimos prevenir, o que buscamos incansavelmente é monitorar as áreas de maior risco para que não voltem a ocorrer”, aponta o capitão da Brigada Militar, Tiago Reimann.
Narcotráfico e a proximidade com Novo Hamburgo
De acordo com Reimann, a situação está relacionada à dois fatores, a guerra do tráfico, uma vez que facções disputam o controle da região, e a proximidade com Novo Hamburgo. “Cerca de 90% dos casos estão relacionados ao tráfico. Tem relação com as organizações criminosas. Existe uma cadeia de mando desses homicídios. Acreditamos que uma medida para inibir os casos seria atacar desde o líder, que está no presídio e continua comandando, como os outros elos, até chegar em quem executou. Acreditamos que atacando toda a cadeia conseguimos reduzir os números de homicídios”, afirmou o capitão que completa. “Nossa criminalidade não é oriunda apenas de Campo Bom, ela vem de Novo Hamburgo também, principalmente dos bairros Marisol e Canudos que fazem divisa com o nosso município”.
Para o professor dos cursos de Tecnologia em Segurança Pública e Gestão Pública da Feevale, Charles Kieling, ocorre uma “reengenharia” de alianças das facções, que estão estabelecendo a interiorização de suas influências, que está diretamente ligada a relação de proximidade entre as duas cidades. “Soma-se a isso o fato de as facções buscarem o controle de rotas para escoar armas e drogas, e nesse caso a RS 239, que cruza Campo Bom, também pode apresentar como alternativa para as facções. Outro fator é o número reduzido das forças de Segurança Pública nas cidades do interior”, afirma Kieling, que ainda aponta o baixo efetivo policial como fator facilitador nesse processo. “Os contextos que envolvem proximidade com áreas reconhecidamente ocupadas por facções, somados com as possibilidades de rotas para se deslocarem e ao baixo efetivo policial, parecem ser os atrativos básicos para a nova “reengenharia” que as facções estão estabelecendo no Estado”, aponta.
“Não há razão para pânico…”
Referente aos números divulgados pelo Estado, Kieling argumenta que não há razão para pânico entre os campo-bonenses, pois são liberados para o público apenas os números dos homicídios consumados. Fator, que segundo o professor passa uma percepção equivocada quanto ao indicador. “Mas quando se soma os homicídios consumados com os homicídios tentados (e esses números o Estado não considera para a análise da violência) a realidade do indicador é de que a violência referente aos homicídios não reduziu”, afirma.
Outro ponto, observado pelo educador que pode induzir a percepção de forma equivocada dos indicadores disponibilizados pela Secretaria de Segurança, mas que devem ser considerados sobre os números de homicídios, é o fato da soma das vítimas. “Nos casos das chacinas por exemplo, onde quatro, cinco ou mais são assassinados, o Estado apresenta apenas o número de um homicídio. Ou seja, no caso de três chacinas, onde doze foram assassinados, o Estado contabiliza apenas três”.