Renata Trein Nazzari está trilhando uma jornada contra o preconceito. A modelo de 26 anos é deficiente auditiva e conquistou o título de Embaixatriz da Beleza Gaúcha PcD 2020, em um concurso de beleza realizado em Parobé, no dia 11 de agosto.
Ao longo da carreira de cinco anos, Renata já conquistou seis títulos, a maioria deles em disputa com mulheres sem deficiência. Mais do que vencer concursos, a moradora do bairro dos Gringos quer inspirar outras meninas e mulheres a competirem de igual para igual. “Estou fazendo tudo isso para mostrar às pessoas que uma garota PcD pode competir como todos os outros, que a diversidade não é vinculativa e que a vida é sempre bonita, só depende do teu modo de vê-la”, disse.
Natural de Taquara, a jovem mora há dois anos em Campo Bom e não poupa elogios à cidade que escolheu para morar. “Para mim representar os campo-bonenses é uma honra. Sou apaixonada por esta cidade, fico encantada com o tratamento que recebo das pessoas, a beleza do município e a organização da cidade”.
“Todo mundo tem uma beleza”
Além de modelo, Renata é militante da causa das pessoas com deficiência. Por isso, todas suas atividades são realizadas para dar visibilidade a essas pessoas, ajudando a terem uma vida digna, seus direitos respeitados e acesso à informação. “Estou trabalhando em um projeto social que vai atuar na autoestima de mulheres com PCD. Muitas pessoas acabam se podando de viver, de lutar pelos seus objetivos por vergonha, por não se sentirem bonitas. Quero ajudar essas meninas a olharem no espelho e enxergarem a beleza que existe nelas, e que é só delas. Todo mundo tem uma beleza diferentes”, explicou a jovem, que sonha concluir o ensino médio e ingressar na faculdade de Administração.
Renata acredita que suas conquistas possam ajudar a esclarecer a população sobre as pessoas com deficiência. “Quero mostrar que as pessoas com deficiência também têm capacidade para realizar sonhos”, afirma.
Luta diária
Hoje a rotina de Renata é se dividir entre entrevistas, ações sociais, ensaios fotográficos e provas de roupas. Mas nem sempre foi assim. Até os 21 anos a única forma de comunicação que possuía era através da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e a leitura labial. Fatores que contribuíram para a jovem ser alvo de preconceito e exclusão. “Senti na pele o que é ser desclassificada em uma seleção de emprego por ser PCD, ou por não me encaixar nas cotas destinadas à contratação de pessoas com deficiência. Por esse motivo luto pela igualdade e inclusão na sociedade. Todos querem trabalhar, o que falta ainda, infelizmente, são oportunidades”, revela.
Rubéola
Segundo diagnóstico médico, a surdez da modelo ocorreu decorrente da infecção da mãe pelo vírus da Rubéola durante as primeiras semanas da gravidez. Quanto mais precoce for a infecção em relação à idade gestacional, mais grave é a doença que pode causar malformações no bebê como microcefalia, surdez ou alterações nos olhos. O diagnóstico tardio provocou a perda de 100% da audição do ouvido direito e 30% do ouvido esquerdo da Miss, que hoje utiliza um aparelho auditivo que auxilia sua comunicação. “Consegui comprar o aparelho há cerca de cinco anos, foi a partir deste momento que comecei a ouvir o mundo. Antes eu falava e não ouvia a minha voz. Para mim é outra vida, antes e depois do aparelho”, finaliza.