Com a determinação do fechamento de muito ambientes de convivência em Campo Bom, desde comerciais – como restaurantes, bares, cinema, teatro, academias – até espaços públicos, como escolas e praças. A medida, adotada para conter a contaminação ante a pandemia da Covid-19, tem isolado as pessoas em suas próprias residências. A medida provocou a necessidade da restruturação da rotina de trabalho, adaptação ao afastamento das atividades sociais, e a procura de formas alternativas para cuidar da saúde sem sair de casa. E sem os devidos cuidados, o confinamento, com prazo ainda indeterminado, pode provocar danos psicológicos. A psicóloga clínica Márcia Nericke explica os efeitos que podem ser observados durante esse período, e como é possível evitar danos.
Jornal A Gazeta – Como lidar com a ansiedade na quarentena na prática?
Márcia Nericke – Estamos vivendo um momento atípico. Nossa vida cotidiana, muitas vezes, nos leva ao colapso. E por não estarmos preparados para tal, esse momento é mais delicado, uma vez que a palavra pandemia vem ligada a palavra morte. Embora seja preciso falar sobre a morte, vivemos em uma cultura que nega abordar esse assunto, e quando nos deparamos com situações como esta, onde a morte se torna uma narrativa contínua, nossa saúde mental se desestabiliza ocasionando estresse e ansiedade. Em quarentena com a família, quem tem filhos deve buscar estar junto deles, interagindo com conversas, contando histórias e com brincadeiras (de preferência sem o uso da internet). Para o casal pode ser um bom momento de planejar melhor o futuro. Quem sabe, buscar projetos que tenham sido deixados de lado. Esses podem ser discutidos novamente. Enquanto indivíduos, mesmo estando dentro de um ambiente familiar, não podemos esquecer que também temos necessidades pessoais, e que não podemos deixar nossos objetivos de lado. Desta forma, devemos organizar o dia com atividades que possam fazer que nos sintamos bem, como um filme com pipoca, arrumar o jardim, cuidar da casa, cuidar de si, ler um livro, fazer atividades físicas.
AG – Como o isolamento social atua no estresse e na ansiedade?
Márcia Nericke – Ao recebermos milhares de informações midiáticas, sendo elas verdadeiras ou não, falando sobre o invisível Covid-19, que não é palpável, produzimos no pensamento expectativas de adquirir uma patologia de algo imperceptível. Essa incerteza vivida no presente pode ser um fator desencadeante do estresse e da ansiedade. Desta forma, o fator isolamento pode atuar como um aditivo, quando se vive em um momento de insegurança futura sobre a própria vida. Quanto mais o indivíduo absorve material externo, sem um filtro adequado das notícias, mais está propício, até mesmo, a uma depressão ou pânico. Por isso, é importante nos mantermos ocupados com atividades saudáveis.
AG – Por conta da pandemia e todos os ‘problemas’ em torno do tema, está cada vez mais difícil relaxar. O que podemos fazer para abstrair e descansar a cabeça?
Márcia Nericke – Neste período de quarentena, sugiro fazer exercícios físicos, relaxamento mental como Mindfulness, procurando deixar de pensar por alguns minutos, buscando ouvir a respiração e o coração, apenas. Quanto ao nosso dia a dia normal, além desses, podemos acrescentar caminhadas, academia, andar de bicicleta, entre outros.
AG – Na sua opinião, as mídias sociais ajudam ou atrapalham nesta hora?
Márcia Nericke – Importante que a pessoa possa estar informada sobre o que é esse vírus e como fazer para evitar o contágio, lembrando sempre de fazer esta análise apenas em sites de órgãos oficiais. Estar o dia todo exposto a uma série de informações, pode deixar o sujeito cada vez mais vulnerável e apreensivo. Logo, ajuda reservarmos apenas um momento do dia para buscar informações de maneira geral, e no restante do dia, buscar ocupar-se com outros afazeres. Em se tratando das mídias online direcionadas para conversas, estas também podem apresentar circunstâncias que necessitam de maiores cuidados. Ou seja, quando usadas adequadamente elas podem auxiliar para diminuir a ausência de amigos e familiares, mas, por outro lado, podem trazer informações falsas que podem levar as pessoas ao pânico ou estresse maior.
AG – Há riscos de o isolamento social abalar as relações humanas durante a quarentena, como por exemplo, o casamento ou a relação com os filhos e outros familiares?
Márcia Nericke – Para que as relações venham a se abalar não precisa necessariamente de uma situação como esta. Claro que momentos como este que estamos passando podem deixar as pessoas mais suscetíveis, porém também pode vir como forma de fortalecer as relações, além de trazer consigo, um novo olhar para a vida e para si próprio.