O Estado do Rio Grande do Sul tem enfrentado um aumento significativo na frequência e intensidade das enchentes. Segundo Jeferson Müller Timm, biólogo e diretor do departamento de gestão ambiental do município, essa realidade está diretamente ligada ao aquecimento global. “O aumento da temperatura média global interfere nos deslocamentos de ar na atmosfera, alterando os regimes de chuvas e intensificando eventos extremos como vendavais, inundações e secas”, explica Timm. Ele ressalta que esses eventos não são exclusivos do sul do Brasil, mas estão ocorrendo de forma cada vez mais intensa em várias partes do mundo.
Evidências científicas
Os ciclos geológicos da Terra envolvem períodos de glaciações e degelos, com variações na temperatura média separadas por milhares de anos. A ciência tem constatado que as ações humanas têm acelerado essas mudanças de forma alarmante. “A concentração de carbono na atmosfera, que naturalmente levaria milhares de anos para aumentar, está se elevando rapidamente devido à atividade humana”, afirma Timm. Esse aumento de carbono é responsável por uma série de mudanças ambientais, como a diminuição das camadas de gelo, a acidificação e desoxigenação dos oceanos, e o aumento da temperatura média global.
Precipitação e enchentes
O aumento das temperaturas globais resulta em maior evaporação das águas dos oceanos e uma maior retenção dessa umidade na atmosfera. Quando essa umidade encontra frentes frias, forma-se um cenário propício para chuvas intensas. “Eventos como o El Niño também contribuem para essas alterações, causando secas no norte e nordeste do Brasil, enquanto intensificam as chuvas na região sul”, esclarece Timm.
Urbanização e vulnerabilidade
A urbanização desordenada agrava a vulnerabilidade de Campo Bom às enchentes. Historicamente, as populações se instalaram próximas a rios, áreas naturalmente sujeitas a alagamentos. Timm destaca que a falta de planejamento urbano e a ocupação irregular em áreas de preservação ambiental são fatores críticos. “As residências afetadas em Campo Bom são, em sua maioria, ocupações irregulares em áreas de preservação ambiental, agravadas pela degradação das matas ciliares e aterro de banhados”, aponta.
Medidas de mitigação e adaptação
Para mitigar os impactos das enchentes, Timm sugere medidas estruturais e a realocação de populações. “Áreas como a Barrinha deveriam ser desmobilizadas e transformadas em parques ou usadas para atividades rurais, evitando conglomerados urbanos em zonas de risco”, propõe. Ele também menciona a construção de comportas de retenção, diques, casas de bombas e bacias de contenção ao longo dos cursos hídricos como possíveis soluções.
Ecossistema local
Embora as espécies de fauna e flora locais estejam adaptadas às variações hídricas, as enchentes frequentes causam prejuízos significativos. “Afogamentos, dispersão de populações e soterramento de plantas são algumas das consequências”, relata Timm. No entanto, ele ressalta a capacidade de resistência e rápida recuperação da maioria das plantas da região.
Manejo ambiental
A recuperação de matas ciliares, florestas e banhados é essencial para aumentar a resiliência de Campo Bom frente às mudanças climáticas. Timm enfatiza a importância de ações globais para conter as emissões de carbono e gases de efeito estufa. “Sem essas ações, o clima pode se tornar insustentável para a agricultura e a manutenção das atividades humanas”, alerta. Ele menciona ainda a implementação de tecnologias inspiradas na natureza, como as cidades esponja, que ajudam a mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
Educação ambiental
A educação ambiental é fundamental para conscientizar e preparar a comunidade para enfrentar os desafios das enchentes. “Vivemos em tempos de negacionismo e descrédito da comunidade científica”, lamenta Timm. Ele sugere que a educação ambiental seja mais enfática em evidenciar os prejuízos diretos para a vida humana causados pela falta de preservação dos ecossistemas naturais. “Precisamos mostrar que o clima colapsa e a conta chega nas nossas casas”, conclui.
Em resumo, a intensificação das enchentes em Campo Bom é um reflexo das mudanças climáticas globais, agravadas pela urbanização desordenada e a falta de planejamento. Medidas estruturais, recuperação ambiental e educação são essenciais para mitigar os impactos e preparar a comunidade para um futuro incerto.