Quando Maria Suany Becker Ferreira, 5 anos, ficou em pé, a menina e sua mãe, Edna Becker, se entreolharam como se dividissem intimamente uma alegria contida, celebrassem uma aguardada conquista. 22 dias após o Natal, finalmente o presente tão esperado chegou, depois de ter enfrentado anos de muitas dores físicas em tentativas médicas de “corrigir seus defeitos de nascimento”, Suany recebeu a órtese e a palmilha feitas sob medida, que poderão ser um divisor de águas em sua qualidade de vida.
A compra dos acessórios foi feita através de uma campanha solidária que o AG lançou no dia 6 de dezembro. Em menos de uma semana a vakinha virtual arrecadou os R$850,00 necessários para a aquisição. A família humilde do oleiro Marcos Roberto Ferreira e da dona de casa Edna não teria como arcar com as despesas. O casal, que têm mais quatro filhos além de Suany, com idades entre 16 e um ano vive com renda que o pai ganha trabalhando em uma olaria no bairro Barrinha.
A entrega foi feita quinta-feira, 16, na sede da Apae em Campo Bom. (Assista o vídeo clicando aqui).
Material anatômico
Produzidos em polipropileno, EVA e velcros tanto a órtese Suropodálica, para tornozelo e pé- semelhante a uma bota-, como a palmilha com elevação do arco longitudinal e preenchimento dos metatarsos são leves e se ajustam à anatomia atípica do corpo da menina. A partir de agora, a pequena deve ganhar maior capacidade para correr, pular, saltar, dançar e brincar, sem dor. “Nunca desisti da minha filha, por mais difícil que parecesse o caminho. Demorei anos para entender que ela não tinha de fazer cirurgias dolorosas para ficar com os pezinhos iguais aos das outras crianças. Ela precisava era de uma adaptação que se ajustasse a seu corpo”, afirma a mãe, que lutou contra o diagnóstico médico. Durante cinco anos a equipe médica que acompanhou Suany apontava que a retirada dos membros e a colocação de próteses era a melhor forma para a menina conseguir levar uma vida normal.
Contrariando expectativas de médicos, a menina que nasceu sem os dedos dos pés conseguiu ficar em pé aos 9 meses e andou antes de completar um ano e meio de vida, como todos os bebês. “A opção que me apresentaram era a amputação, desde o nascimento dela. Me falavam que minha vida nunca iria andar, que passaria a vida se arrastando no chão e hoje olha ela aí, caminhando”, emociona-se a mãe.
O primeiro teste de Suany com os acessórios parecia a exibição de uma veterana. Desfilou usando o que gosta de chamar de botas, com aparente facilidade e desempenho de profissional. Confecionada em cor de rosa e com estampa de um dos seus desenhos preferidos “Masha e o Urso”, a menina parecia não acreditar que finalmente poderá brincar e andar sem dor. “A capacidade de adaptação das crianças é enorme e quase instantânea. Elas não reclamam das dores do andar, não sentem tontura, não querem fazer reparos em nada. Nosso papel é dar o máximo de conforto e promover um alinhamento perfeito da órtese para ela”, revelou Claudio Aldaves, técnico ortesista.
Pela vontade de Suany, nenhum ajuste era necessário na bota, mas o técnico notou um pequeno desnível que foi corrigido em minutos na sala de fisioterapia mesmo.
Aluna da Emei Princesinha, ela corre, pula, dança, brinca. Como todas as crianças de cinco anos de idade. Com um brilho incontestável no olhar, a pequena testava as possiblidades que os equipamentos poderão lhe proporcionar. Um deles, o tão esperado tênis que brilha no escuro. Anteriormente a menina conseguia usar apenas botas devido a falta de sustentação de seus pés. “Agora calço número 25”, informou Suany.
Acessórios deverão ser trocados
A menina, parobeense que mora no bairro Barrinha há cerca de sete meses deve usar o equipamento por cerca de um ano, quando deverá ser trocado, acompanhando seu crescimento. Com a órtese e a palmilha ela vai calçar numeração 25 e quer ganhar um tênis que brilha o mais breve possível. “O mais importante é a Suany estar se sentindo bem, sem dor, como se estivesse usando um sapato confortável. Ela vai trocar o equipamento de tempos em tempos, mas sempre será ela quem deverá decidir como se sente melhor em sua mobilidade”, declarou a fisioterapeuta Patricia Velho Premaor, que acompanha o tratamento da criança desde que a família chegou ao município.
Entenda o caso
Embora tenha nascido saudável, Suany possui má-formação congênita dos membros inferiores (pés e tíbia), incluindo a cintura pélvica. No pé direito a menina possui quatro dedos (um deles interno) e no esquerdo, o calcanhar não se desenvolveu e o membro sem ossos conta com apenas dois dedinhos. O diagnóstico médico aponta ainda alteração entre o comprimento das pernas – a esquerda é 4.5cm menor. Segundo a mãe, a malformação ocorreu devido o bebê permanecer sentado sobre as pernas durante toda gestação.