Há acontecimentos que não cabem no boletim da semana. Quando a água invadiu o Rio Grande do Sul, em maio de 2024, a escola deixou de ser apenas escola: virou abrigo, cozinha solidária, ponto de reencontro e, antes de tudo, testemunha.
Foi ao perceber que essa experiência não poderia depender da memória frágil das redes sociais ou do “foi assim que me contaram” que o pesquisador campo-bonense José Edimar de Souza decidiu agir ainda durante a emergência. Submeteu um projeto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do RS (Fapergs), obteve financiamento e abriu um esforço de registro para que o país fosse capaz de aprender com o que viveu. O projeto conta com uma série de livros em quatro volumes.
Financiado pela agência estadual de fomento e ancorado na história do tempo presente, o projeto reúne uma rede de investigadores do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de diferentes instituições. O primeiro volume, lançado na sexta-feira (17), constrói um quadro inicial: mapeia, organiza e apresenta um estado da arte enquanto a memória ainda pulsa. O lançamento ocorreu on-line, junto a um curso de extensão, e teve apresentação presencial no dia 28, durante a 42ª Reunião Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa (ANPEd), em João Pessoa.
Os volumes seguintes aprofundam o mergulho. O segundo reúne mais de 40 entrevistas, que também darão corpo a um documentário previsto para julho de 2026, em São Leopoldo e, possivelmente, em Campo Bom. O terceiro, escrito com a pesquisadora Vialana Salatino, nasce como caderno psicoeducativo: material para prevenir, preparar e formar quem estará na linha de frente quando a água, inevitavelmente, voltar a subir. O quarto livro recolherá cartas de estudantes e trabalhadores da educação — relatos de quem viveu no corpo o que agora se transforma em palavra.
O primeiro volume da série, intitulado “Escola e Crise Climática no Rio Grande do Sul – As enchentes de 2024” está disponível gratuitamente, em forma de e-book (acesse o QR Code para download).
Fisicamente, alguns exemplares serão destinados a bibliotecas. A iniciativa transforma emergência em arquivo, memória em ferramenta e a escola em laboratório de futuro.













