Enxame é monitorado pela Secretaria de Meio Ambiente
Uma descoberta surpreendente foi feita recentemente no município de Campo Bom, no Rio Grande do Sul. Abelhas da espécie Melipona seminigra, conhecidas pelo nome popular “boca-de-renda” foram encontradas habitando o oco de uma árvore na zona central da cidade. A espécie é conhecida por não suportar o frio, e, por isso, vive nas regiões de florestas mais quentes e úmidas do país, como Amazonas, Acre e Roraima. A descoberta foi feita pelo morador Julcir Lasta, que fez um vídeo divulgando o achado e que também é meliponicultor (nome dado aos criadores de meliponineos, as abelhas sem ferrão nativas do Brasil). “Encontrar uma espécie de animal da Amazônia no centro de Campo foi inusitado e curioso. Imediatamente deslocamos nossa equipe da Secretaria de Meio Ambiente (Sema) para averiguar e tomar as medidas necessárias”, conta o prefeito Luciano Orsi.
A causa mais provável deste fato é que exista algum meliponário nas proximidades, de onde essa colmeia pode ter vindo e colonizado o oco da árvore. Embora a criação desta espécie seja ilegal fora do seu habitat natural, alguns criadores insistem em manter esses animais de forma irregular em regiões mais ao sul do país.
Segundo o biólogo Jeferson Timm, da Sema, as ações do Município visam monitorar o enxame. “Caso o enxame sobreviva será indicativo de risco às espécies nativas, já que a boca-de-renda poderá competir por ocos de árvores e recursos alimentares buscados pelas abelhas nas flores. O registro e acompanhamento devem gerar subsídios importantes para as discussões e decisões dos órgãos ambientais, bem como para construção ou melhoramento das normativas que regulam a atividade da meliponicultura”, explica.
A respeito deste caso a doutora em biologia Betina Blochtein, professora na PUCRS e especialista no assunto, destaca que a introdução de espécies de outras regiões acrescenta novas ameaças às populações de abelhas nativas. Ela aponta como ameaça, a entrada de doenças e parasitas, e ainda o risco de cruzamento com espécies nativas tornando-as menos aptas para sobreviver na natureza.
O secretário municipal de meio ambiente João Flávio da Rosa descarta a eliminação do enxame. “Faremos o acompanhamento para monitorar, a eliminação não é necessária. Caso verifiquemos que a espécie realmente se caracteriza como invasora ou como ameaça às abelhas nativas será avaliada a melhor alternativa de manejo e destinação do enxame”.
A localização exata das abelhas não é divulgada pela Prefeitura, já que a colmeia pode sofrer com vandalismo ou perturbações. A Sema ainda alerta que praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos é crime, passível de multa e detenção de três meses a um ano conforme o Art. 32, da Lei Federal nº. 9.605/1998.