Por Mairan Pacheco
Setembro Verde é o mês de conscientização sobre a doação de órgãos. Mas você sabe como funciona esse processo e de que forma ele pode transformar vidas?
Em Campo Bom, assim como em todo o Brasil, a fila de espera por transplantes é única e nacional, sendo regulada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Isso significa que não há uma lista municipal, mas sim um cadastro unificado que organiza, de forma transparente, quem pode receber cada órgão de acordo com critérios técnicos e de compatibilidade. Atualmente, cerca de 78 mil pessoas aguardam por um transplante no Brasil.
Conforme o Registro Brasileiro de Transplantes (RBT) da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), em 2024, o Brasil registrou 6.966 transplantes, sendo 798 realizados de doador vivo e 6.168 de doador falecido. No mesmo ano, foram identificados 11.293 potenciais doadores, dos quais 3.096 se tornaram doadores efetivos. Isso significa que, de cada mil pessoas que faleceram, aproximadamente 14,5 poderiam ser doadoras em morte encefálica, e 2,6 efetivamente se tornaram doadoras.
No Hospital Lauro Reus, a doação de órgãos é acompanhada pela Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos (CIHDOTT), composta por uma equipe multidisciplinar responsável por acolher as famílias, prestar informações e orientar sobre a importância desse gesto de solidariedade. Essa mesma comissão também atua promovendo ações educativas e de conscientização junto à comunidade.
Um único doador pode beneficiar diversas pessoas, já que é possível doar até oito órgãos, entre eles coração, pulmões, rins, fígado, intestino, além de tecidos como córneas, pele e ossos. No último semestre, o Lauro Reus registrou duas captações de órgãos, números que reforçam a necessidade de ampliar a divulgação e o diálogo sobre o tema.
De acordo com a instituição, a chave para aumentar a conscientização é a informação clara e objetiva, aliada ao incentivo de conversas dentro das famílias. Afinal, são os familiares que precisam autorizar a doação. Quanto mais se fala sobre o assunto, maiores são as chances de salvar vidas e reduzir o tempo de espera de milhares de brasileiros que aguardam por um transplante.
“Retomei a minha vida”

Em 2018, a campo-bonense Goreti da Silva recebeu uma nova oportunidade de viver. Diagnosticada com fibrose pulmonar idiopática (quando não é possível constatar a causa da doença) em 2008, ela conviveu com a enfermidade por 10 anos.
Os sintomas se agravaram a partir do segundo semestre de 2015, quando gestos simples como caminhar segurando o celular eram impossíveis, por demandar um esforço demasiado, a ponto de não conseguir respirar. Foi então que Goreti entrou para a fila de transplantes.
Em fevereiro de 2018, a tão esperada ligação: havia um órgão compatível disponível. Goreti destaca o momento como “uma supremacia da vida”. “Passei a viver, retomei a minha vida”, conta.
O testemunho de Goreti, hoje, serve de inspiração para conscientização. “Daqui não se leva nada, então por que não deixar algo que possa ajudar outras pessoas? Devemos avisar nossas famílias que seremos doadores de órgãos. Quando acontece uma fatalidade, os familiares devem pensar que o ente querido pode contribuir com a melhora de muitas outras pessoas”, ressalta, lembrando que doar órgãos é um gesto de amor, empatia e solidariedade.