Segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS), do Ministério da Saúde, após consecutivas altas, o número de transplantes, tanto de órgãos, tecidos ou células, feitos pela rede pública de saúde caiu no ano de 2020, sendo o menor dos últimos oito anos no Brasil.
Somente no Rio Grande do Sul, de acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), a necessidade estimada, durante o ano, de doação de córnea, fígado, pulmão e coração foi de 2.173, deste total, somente 757 procedimentos foram realizados. Já no Brasil, a necessidade anual estimada foi de 40.138, destes, 14.354 transplantes foram realizados.
Na segunda parte da série Multiplicando Vidas, o AG traz o relato dos campo-bonenses Alexandre Luiz Vieira, de 56 anos, e Sônia Maria Angeli, de 60 anos, que puderam renascer ao receberem a doação de um novo rim.
A série Multiplicando Vidas é uma ação do Jornal A Gazeta, em parceria com o gabinete da primeira-dama, Kátia Orsi, a Prefeitura Municipal, através da Secretaria de Saúde, e a Fundação Cultural e Assistencial (Ecarta), de Porto Alegre. No dia 5 de outubro, acontecerá a palestra “Cultura Doadora: vamos falar sobre doação de órgãos?”, para interessados no assunto, no Auditório Marlise Saueressig, do Complexo Cultural CEI, às 19h.
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Irmãos mais que de sangue
O dia 11 de outubro de 1990 ficou marcado na vida do campo-bonense, Alexandre Luiz Vieira, na época com 26 anos, que precisou de um transplante de rim de urgência.
Alexandre conta que começou a sentir muito cansaço quando estava jogando futebol e estava urinando pouco. Após procurar um médico e fazer alguns exames, foi constatado que seu rim estava falhando. Por ser um caso de urgência, ele precisou fazer uma fístula – conexão anormal entre os órgãos. No dia seguinte, começou a fazer a diálise – uso de equipamento específico que infunde e drena uma solução especial diretamente no abdômen do paciente, sem contato direto com o sangue.
“Minha irmã se prontificou a fazer os exames e, graças a Deus, ela foi compatível e pode realizar a doação”. Hoje em dia, aos 56 anos, Alexandre leva uma vida normal, pratica esportes e pode trabalhar mas, claro, sempre tomando a medicação necessária. Ele agradece imensamente pela segunda chance de viver que recebeu da irmã, Vera Lúcia Fritsch.
Salvador desconhecido
Nove anos depois, em 15 de novembro de 1999, foi a vez da campo-bonense Sônia Maria Angeli, então com 38 anos, de receber um transplante de rim. Por ter sangue AB e ser mais difícil de achar compatibilidade, ela ficou dois anos e dois meses na fila de espera.
Sônia, hoje com 60 anos, conta que estava fazendo a hemodiálise – uso de um equipamento específico que filtra o sangue diretamente e o devolve ao corpo do paciente com menos impurezas – quando recebeu um telefonema do Hospital Santa Casa, de Porto Alegre, dizendo que no dia seguinte haveria disponibilidade de transplante para ela. “Chegando lá, fiz alguns exames e às 9 horas da noite eu já estava transplantada. O rim foi muito bem aceito, não houve rejeição nenhuma”, conta. Após 15 dias no hospital, ela pôde voltar para casa.
O rim veio de um senhor, morador da cidade de Estrela, que sofreu um acidente de moto. Embora não tenha conhecido o seu salvador, Sônia diz ser muito grata por ter ganhado uma nova vida e poder cuidar de suas filhas e de sua família. Com alegria, ela conta que, agora, todos em sua casa são doadores de órgãos para, um dia, poderem salvar a vida de alguém, assim como a sua foi salva.