Um dia de celebração e de conscientização

No dia 20 de novembro comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra. A data é uma celebração e, também, de conscientização da população negra e todos em geral sobre a força, a resistência e o sofrimento que o povo negro viveu no Brasil desde a colonização.

A data foi incluída no calendário escolar nacional em 2003, porém, apenas em 2011, a então presidente Dilma Rousseff (PT) sancionou a Lei nº 12.519 que instituiu oficialmente o dia como o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. No entanto, para ser decretado feriado, cada estado ou cidade brasileira precisa aprovar uma lei regulamentando o feriado.

A data também serve para debater a importância do povo e da cultura africana no Brasil, com seus respectivos impactos políticos no desenvolvimento da identidade cultural brasileira, seja por meio da música, da política, da religião ou da gastronomia entre várias outras áreas que foram profundamente influenciadas pela população negra.

Para celebrar a data, o Jornal A Gazeta conversou, com exclusividade, com os rostos e as vozes do grupo 50 Tons e Pretas, Graziela Pires e a Dejeane Arruée, sobre o significado da resistência de sua cor.

Jornal A Gazeta: Qual a importância do dia da consciência negra para vocês?
Dupla:
É um dia de luta, de reflexão, de denúncia. Já avançamos, porém ainda temos um longo caminho a percorrer ainda em busca de igualdade e equidade. Os dados, os números, nos apontam uma realidade que ainda é muito desigual ao povo preto. Para além das práticas de conscientização, é preciso reagir mais firmemente aos crimes de racismo e injúria racial, por exemplo. Dia da Consciência Negra é um dia para negros e não negros pensarem juntos soluções de práticas antirracistas que possam de fato impactar a sociedade, e ultrapassem as redes socias.

AG: Como mulheres, negras e LGBTs, a luta de vocês se torna ainda maior. Como vocês lidam com tantos preconceitos diariamente em um país tão desigual?
Dejeane:
Ser mulher negra, lésbica e artista é uma luta diária, é encontrar portas fechadas todo dia, é resistência contra todo tipo de opressão, violência e preconceito… A militância se faz necessária pra dizer que existimos e estamos na batalha, sobrevivendo como todos.

AG: Houve algum fato marcante de preconceito na vida de vocês?
Grazi:
Quando a gente revisita as memórias, a gente encontra diversos fatos, cenas e episódios de racismo a que fomos submetidas. Mas na época, como nunca a escola falava sobre isso, a gente sofria calada. Não questionava. Uma das cenas que me marcou foi minhas primas ensaiando pro concurso de paquitas da Xuxa, decorando todos os passos e se permitindo sonhar, e minha tia tendo que dizer pra elas que elas nunca seriam aceitas. Que eles jamais aceitariam meninas negras para ser paquitas. Na época, esse episódio era lido como natural. Hoje, isso não seria mais aceito. A custo de muita luta dos movimentos negros, dos intelectuais e artistas pretos e pretas, vem se buscando esse espaço de igualdade em oportunidades, de representatividade e de diversidade.

AG: Falem um pouco mais de cada conquista de cada uma de vocês.
Dejeane:
Sou graduada em Música. Sou regente de banda, trombonista e arranjadora. Na banda 50 Tons de Pretas atuo como cantora e multi-instrumentista e assino a produção musical. Na minha caminhada, de mais de 25 anos, já teve diferente bandas e gravei com muitos nomes da nossa cena musical como: Tonho Crocco, Tati Portella e Alemão Ronaldo. Minha caminhada na música começou em escola pública tocando diversos instrumentos na banda marcial e, com 15 anos, já estava tocando na noite de Porto Alegre acompanhada dos pais e irmãos. Sempre fui a única mulher entre vários homens nos ambientes musicais no universo de bandas que participei e sempre fui resistência e atitude como mulher negra e lésbica que sou… me destaquei pela minha competência e capacidade de transformação.

Grazi: Sou Bacharela em Musicoterapia. Sou regente de coros, cantora e compositora e atuo na música há mais de 15 anos. Sempre tive projetos de violão e voz e de cerimoniais para casamento até criarmos a 50 Tons de Pretas, minha primeira experiência com banda própria. Sempre amei estar no palco, mas a criação da 50 Tons de Pretas e todo esse sonho que estamos realizando foi algo totalmente despretensioso no início e hoje é o sonho que move as nossas vidas.
Atualmente além da banda, regemos a Pretas Produções e projetos sociais como o Uma Sinfonia Diferente RS Musical protagonizado por crianças e jovens com autismo. Também oferecemos assessoria para artistas independentes na gestão de carreira, escrita de projetos e editais.

AG: O que vocês sonham para o futuro?
Dupla:
Sonhamos levar nossa música e nossa mensagem cada vez mais longe. Nossa meta é transpor as barreiras geográficas e de estilos musicais para dialogar com várias pessoas e de todo o país e quem sabe até fora dele. A música é nossa principal ferramenta de luta e acreditamos muito na sua capacidade de transformação. Então, queremos seguir lutando com nossa arte e inspirando pessoas a sonhar, acreditar, e brigar por um mundo melhor e justo para todos.

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