Trilhas da Imigração 200 anos: uma jornada musical

Por Hebe Cardoso

Um veleiro e uma viagem praticamente sem volta. Quatro meses de viagem, e o destino de 39 imigrantes alemães se fez a partir da Feitoria do Linho Cânhamo, São Leopoldo. O que hoje seriam 20 dias de navio, ou 12 horas de avião, foram intermináveis dias de incertezas. Das promessas contidas nos panfletos que circulavam na região portuária de Hamburgo, na Alemanha, à realidade que se impôs na chegada, o assentamento sem qualquer estrutura e a dura rotina de sobrevivência, só não foi pior porque aqui já habitavam indígenas, portugueses, e negros escravizados, o que permitia subentender que seria possível adaptar-se à região.
Tanto foi possível, que desenvolveram conjuntamente toda uma região, e abriram caminho para outras tantas levas de imigrantes alemães e, mais tarde italianos, e muitos outros, como poloneses, ucranianos, japoneses, e mais recentemente, haitianos, sírios e venezuelanos. A Orquestra Eintracht faz sua homenagem ao Bicentenário da Imigração Alemã no Brasil, por meio da música. Uma trilha sonora que revela momentos marcantes de uma jornada.
Trilhas da imigração E lá se vão 200 anos…
De uma Alemanha empobrecida, que com a industrialização já não absorvia o excesso de mão de obra, com poucas terras e assolada pela fome, sem perspectivas, a emigração representou a esperança, uma promessa de fartura no Brasil. Ao som da 5ª Sinfonia de Beethoven, também conhecida como a Sinfonia do Destino, se dá a partida rumo ao desconhecido.
A chegada não foi exatamente como o esperado. A ajuda prometida não se confirmou, mas o trabalho, esse sim, veio em dobro, e junto com ele a utopia de um mundo melhor. Na trilha, devaneios entre as memórias musicais e sonoras, e os encontros com novas sonoridades. |Concórdia|
Sem saber sobre como a vida seguiu por lá, longe de suas referências, sequer souberam da última. Sim, Beethoven, já quase sem audição, compôs em 1824, sua última sinfonia, a 9ª.
E a saudade quase sem tempo de ser sentida, encontra consolo nas notas de Richard Wagner e nos poemas de Goethe. |Pilgrims Chorus| Em busca de força para seguir, se forma uma comunidade de fé, e se erguem os pilares da colônia: uma igreja, uma escola e um cemitério. Na trilha a celebração da fé com Johan Sebastian Bach -Jesus Alegria dos Homens
A filósofa Hannah Arendt nos ajuda a compreender e sentir em sua poesia o desenrolar da história, nem sempre lúcido, como a trágica história dos Muckers, embalada pela trilha sonora de Jaques Morelembaum, Dia-a-dia e Ferrobrás, para o filme a Paixão de Jacobina. Cristãos contra cristãos, a fé tão necessária, não pode ser motivo de intolerância. A mulher Jacobina que longe de todo e qualquer recurso, acolheu mulheres exaustas pelo trabalho duro, pelo cuidado com dezenas de filhos, e com a saúde debilitada. Lhes deu de comer, um lugar de descanso para recuperarem forças, e todo o tipo de ervas que a terra oferecia para tentar curar doenças. O que lhes restava era rezar, cantar hinos, e esperar por alguma melhora. A recuperação de alguns, atraiu muitos, em busca de cura, e atraiu a atenção daqueles que julgaram, perseguiram e mataram Jacobina por bruxaria. Novos e velhos conhecimentos e experiências se acomodando a vida na colônia. Na bagagem de várias levas de imigrantes, além da Bíblia, vieram Voltaire com o Iluminismo, Locke com o Liberalismo, Marx com o Materialismo, Allan Kardec com o Espiritismo, Darwin com a evolução das Espécies. Com tantos questionamentos um mundo de pensamentos se abria e uma vida dura se impunha ao pensamento.
A vida se reorganiza até que eclode a grande guerra na Europa, e três atos da Ópera dos 3 Vinténs, de Bertolt Brecht e Kurt Weill, composta no período entre guerras, se faz trilha em nossa jornada. Coroada com um poema de Brecht.
Forjada pelo trabalho e seus sons, a vida da colônia e da cidade se mostra por meio de uma performance percussiva, que avança sobre o tempo.
Tempo que oscila, e revisita, e lá do barroco alemão, traz a harmonia do Kannon em Ré Maior de Pachelbel para o rock, que expande épocas e fronteiras.Até que, enfim, cai o Muro de Berlim, e a canção de Klaus Meine, da banda Scorpions, Wind Of Change, se tornou símbolo da reunificação da Alemanha e do fim da guerra fria. Na vanguarda da música Pop dos anos 80, no Da Da Da, da Banda Trio, o idioma alemão não impediu que ela se tornasse um hit internacional.
E, na nossa jornada, desafiamos o público a cantar conosco. Muita coisa aconteceu em 200 anos, muita luta, mas muita alegria. Por aqui, os imigrantes, influenciados por diversos ritmos, criaram formas simples de comemorar nas suas comunidades, e o que não falta por aí é festa boa! Num medley das mais pedidas nos bailes da colônia, tiramos a plateia para dançar. | Liechtensteiner polka / O Verão Sempre Vai Voltar – Os Montanari / Feliz Em Festa – Banda Eccos / Roubaram meu Frühstück – 3 Xirus|.

SERVIÇO:
16/10 Campo Bom – Teatro do CEI – 3 sessões (9h, 14:30h e 19:30h)
23/10 Porto Alegre – Theatro São Pedro
23/11 Igrejinha – Parque da Oktober
13/12 Rolante – Encerramento da Feria do Livro – Sociedade Cristo Rei.

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