Professor explica o que é a prova do Enem e como encarar a sua nota

Arquivo pessoal

As tão esperadas notas do Enem foram anunciadas no dia 29 de março, e muitos participantes já estão ansiosos para utilizá-las em programas como o Sisu – que encerrou as inscrições na sexta-feira, 09. Pensando nisso o AG conversou com exclusividade com o campo-bonense Felipe Guevara, 25 anos, ex-aluno do Colégio Sinodal Tiradentes, formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS – e professor de História e ciências humanas no Grupo Unificado, na região metropolitana e capital, e no Grupo Veiga, em Pelotas e Rio Grande, que explica um pouco sobre o diferencial do exame e, também, sobre como o Enem é visto como “um bicho de sete cabeças” pelos alunos mas, no final, é somente mal interpretado.

Afinal, o que é o Enem?

“A maioria dos meus alunos chegam nas primeiras aulas de um pré-vestibular ou no ensino médio, ou até mesmo nas vésperas do Enem, e eles não sabem como funciona a prova”, diz Felipe. “Uma dica que eu dou é: leiam o edital sobre a prova. O edital elucida como ela funciona”. (Para consultar os editais passados, clique aqui).

O Enem, ou Exame Nacional do Ensino Médio, é uma prova de admissão à educação superior realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, autarquia vinculada ao Ministério da Educação do Brasil, e foi criada em 1998 inicialmente para avaliar a qualidade do ensino médio no país. “O Enem é algo bem diferente do que a gente tá acostumado ao longo da educação brasileira. Ele é o maior concurso público do mundo, seja em termos de volume de candidatos, em termos de grandiosidade da operação, de ocorrência dele [em anos sucessivos], ele é um modelo. Todo o mundo reconhece a complexidade, o avanço e a ideia do Enem”, diz Guevara.

O porquê disso é explicado justamente por pontos bem simples. A prova é uma consequência da redemocratização do Brasil, ela tem a opção de aplicar uma prova através de um longo processo de reformular o que seria a educação, a cidadania e o mercado de trabalho no Brasil, isto justamente por ela ser muito mais que um exame. “A prova do Enem é uma consequência daquilo que foi pensado há 30, 40 anos atrás para ser posto em prática na sociedade brasileira, ela lembra muito a constituição de 1988”.

Por que o Enem é tão diferente?

Os alunos tendem a relacionar o Enem a uma “montoeira de textos que tu fica zonzo de tanto ler”, mas na verdade, o Enem é o único vestibular do Brasil que não trabalha com conteúdos. “Em História, por exemplo, tu abre o edital da UFRGS, e aparece ‘história antiga, idade média, idade moderna, etc’ e mais uma lista de conteúdos que podem cair na prova. Já o Enem, trabalha com competências e habilidades, é uma outra concepção de educação, muito mais moderna”, explica Guevara.

Tais competências e habilidades podem ser definidas da seguinte maneira: a competência é o saber, ou seja, o conhecimento. A competência X, por exemplo, de ciências humanas, é uma competência que tem haver com cultura, ter noção de o que é cultura e o que é identidade cultural, e dentro desta competência X, há cinco habilidades. “Podemos relacionar a competência com dirigir um carro onde exige-se o domínio de certas habilidades, como trocar a marcha, saber o que significa os pedais, as regras de trânsito, o funcionamento do carro, etc. É mais ou menos assim que a prova do Enem funciona e isso acaba pegando os alunos, porque a nossa educação não é voltada para isso”.

A educação brasileira é uma lógica conteudista, ou seja, de decoração. Decorar determinadas informações, acumular determinados conteúdos, decorar datas, números e fórmulas. E o Enem acaba quebrando este conceito. “A maioria dos alunos nem sabe que existe um edital com tudo isso explicado, onde tem listadas todas as competências”, ressalta Felipe.

Eu não passei no Enem, e agora?

O conceito de o Enem ser uma prova onde você coloca tudo que aprendeu na escola até então e que vai definir uma vaga em uma universidade pública tem que ser visto com outros olhos. A prova não é o fim do mundo, é apenas uma das primeiras etapas da idade adulta da qual a pessoa vai passar na vida, além de provas de graduação, pós-graduação, processo seletivo, entrar em uma empresa, crescer na empresa, entre outros. “Normalmente os alunos vêem isso como o céu e o inferno”, brinca Felipe.

‘Passei no Enem: minha vida iniciou’ ou ‘rodei no Enem; minha vida acabou’ são algumas das frases que ele já cansou de ouvir vindo dos alunos. “Não é bem assim, essa prova é somente um dos passos que tu vai ter que dar na vida nos próximos 80 anos. A vida adulta, ela é um acúmulo de acertos e erros que formam o que tu vai ser, acho que essa é a primeira parte que o aluno precisa entender. Eu provoco meus alunos dessa maneira, pra escolherem a pessoa mais incrível que conhecem, seja um jogador de futebol, uma advogada, uma atriz, etc, essa pessoa com certeza já errou em algo e já reprovou em prova na vida”, finaliza.
É importante lembrar que há muitos cursos preparatórios que ajudam e trabalham com exames e vestibulares. Ser ensinado por profissionais especializados nesse nicho é sempre importante e pode ajudar muito na preparação da realização destas provas.

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