Do pioneirismo ao símbolo cultural: uma jornada de 21 quilômetros na cidade que pedala para o futuro
O ano era 1977, e o município de Campo Bom, impulsionado pela exportação de calçados, vivenciava uma explosão econômica. No entanto, com o crescimento da indústria coureiro-calçadista, a bicicleta, principal meio de transporte dos trabalhadores, começou a criar congestionamentos no trânsito. “Optou-se, então, por reservar um espaço só para os ciclistas”, revela o pesquisador Roberto Atkinson.
A incansável busca por soluções
Diante dos desafios, a administração municipal, em conjunto com clubes de serviços, tentou orientar os ciclistas a seguir regras de trânsito, mas a experiência não obteve sucesso. A solução? Reservar um espaço físico exclusivo. Assim, nasceu a ideia da ciclovia. “Foi uma tentativa de criar uma via segura para a movimentação da população em suas idas e vindas do trabalho”, destaca Atkinson.
Com a integração à Região Metropolitana de Porto Alegre e a visão do prefeito Nestor Schneider, a ciclovia foi projetada e iniciou sua construção em 1977, com os primeiros três quilômetros inaugurados em 1978. O sucesso foi notório, retirando milhares de ciclistas das vias do centro e proporcionando um meio de transporte seguro e eficiente.
Da mobilidade urbana ao lazer
A ciclovia de Campo Bom não é apenas uma via; é um patrimônio afetivo, cultural e esportivo. Com 21 quilômetros, a malha cicloviária, composta inicialmente por um “anel cicloviário”, cresceu ao longo dos anos. Atkinson destaca que, embora projetada para mobilidade, o anel cicloviário é hoje uma pista compartilhada, priorizando esportes e lazer.
Estendendo-se por diferentes áreas da cidade, a ciclovia oferece uma experiência única. Arborizada, pavimentada e adornada por floreiras, ela contorna o centro e conecta-se a pontos estratégicos. “Além de mobilidade, proporcionou lindos passeios de bicicleta ou a pé”, afirma Atkinson. O jovem Rodney Schmidt, vencedor de um concurso, criou o símbolo dos bicicletários, evidenciando a cultura ciclística.
Turismo e identidade
Com a alcunha de “primeira ciclovia da América Latina”, a ciclovia de Campo Bom tornou-se um símbolo da cidade. Margeando a Avenida dos Estados, ela é acompanhada por atrativos como o labirinto de Campo Bom, pistas de atletismo e bicicross, e o Parque de Integração Arno Kuns. “É ponto de visita obrigatório para turistas e autoridades de todo o país”, enfatiza Atkinson.
Ao longo das décadas, a ciclovia recebeu cuidados e melhorias constantes. Com instalação de iluminação elétrica, construção de pergolados e totens informativos, a administração sempre priorizou sua preservação. “Não se pode mais imaginar o município sem a ciclovia”, ressalta Atkinson, evidenciando o impacto positivo na segurança, saúde e qualidade de vida da população.
Legado e desafios futuros
Considerada um cartão postal, a ciclovia é parte do patrimônio físico e afetivo de Campo Bom. Seu impacto na mobilidade urbana e no estilo de vida dos habitantes é notório. Sobre os planos futuros, Atkinson não tem detalhes específicos, mas destaca a tradição de cuidado e expansão da ciclovia por todas as administrações. O legado da ciclovia é claro: ela não é apenas uma via, mas uma parte essencial da identidade de Campo Bom.