Operários descobrem toca de animal pré-histórico em Campo Bom

Joceline Silveira/AG

Ao executarem escavações para a obra de construção de uma empresa, às margens da ERS-239, sem querer operários acabaram fazendo uma importante descoberta científica em Campo Bom. Há cerca de duas semanas eles encontraram uma paleotoca, como são chamadas tocas de animais pré-históricos.

Aberta por preguiças-gigantes, espécie da megafauna que se extinguiram cerca de 10 mil anos atrás, as paleotocas foram identificadas com abundância em todo o Estado. Em Campo Bom, a descoberta só foi possível porque um biólogo as viu quando passava pela rodovia e avisou o amigo, também biólogo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Jeferson Timm. “Recebi a ligação dele e em seguida fomos até o local. Os sinais já apontavam que se tratava de uma paleotoca, a forma arredondada e as marcas de garras nas paredes eram indícios contundentes”, revela Timm.

O professor de geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Heinrich Frank foi chamado para comprovar que os dois túneis, de 3 e 6 metros de comprimento dentro da rocha eram tocas. Há cerca de dez anos ele coordena um grupo de pesquisa que reúne professores e estudantes de várias universidades do Sul do Brasil, o “Projeto Paleotocas”. Ele explica que a forma de abertura do buraco e as marcas de ranhuras na escavação remetem à uma espécie de preguiça gigante, um animal com peso variando de 800 quilos até 1 toneladas. “Esta é uma toca bastante representativa e difícil de ser encontrada, mas é relativamente frequente e característica nesta região. A sorte é que a escavadeira não abalou a estrutura dela”, complementa.

DESCOBERTA HISTÓRICA

De acordo com o pesquisador, o Rio Grande do Sul é um dos locais com maior número de registro de paleotocas em todo o mundo. Mais de mil já foram identificadas e acredita-se que existem muitas outras ainda não descobertas. Essa em Campo Bom, porém, foi a primeira deste tamanho registrada no município, o que é motivo de alegria. “Esses túneis, internacionalmente falando, são completamente inéditos porque só existem na América do Sul. É uma coisa muito nossa e agora Campo Bom vai ficar registrada na história como uma das rotas desses animais”, comenta o secretário de Meio Ambiente, João Flávio da Rosa.

As tocas descobertas possuem alturas e profundidades diferentes. Localizadas lado a lado a maior possui uma abertura de 3metros de diâmetros com profundidade chegando a 6m, a menor possui 1.40 cm de diâmetro com 3 metros de profundidade. Os pesquisadores acreditam que os buracos sejam a parte final de um túnel de 70 metros de comprimento que abrigava um animal que em pé teria 2 m de altura. “Os indícios apontam que seriam como corredores de acesso que levavam à toca”, detalha o pesquisador.

“PALEOTOCA NÃO TRANCA OBRA”

Em breve, o túnel à margem da rodovia será coberto, e a paleotoca desaparecerá das vistas, mas não dos registros do professor Frank. Neles, junto com centenas de outras, ela estará catalogada, com fotos, medições e coordenadas. Trata-se de um patrimônio único, testemunha da história de eras passadas. Nesse sentido, não deveria ser preservado? Mais de uma vez, promotores do Ministério Público procuraram o pesquisador para colocar essa questão. Mesmo apaixonado pelas paleotocas, o professor desencorajou a ideia de declará-las sítios paleontológicos: “É um patrimônio importante, que a gente deveria tentar preservar, na medida em que aparece aberta, mas eu disse: “Olha, se a gente começar a fazer isso, não construímos mais nada e não duplicamos mais rodovia nenhuma no Rio Grande do Sul, porque está tudo cheio. O que dá para fazer é tirar foto, medir e botar GPS, documentando toca por toca e depois publicando os resultados”, revela.

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