Maria do Carmo: precursora do Programa AG Educa

Giordanna Vallejos/AG

Um legado de dedicação à educação, política e informação

Por Giordanna Vallejos

No dia 29 de outubro de 1986, estampou-se a notícia de que a professora Maria do Carmo havia trabalhado em sala de aula com o Jornal A Gazeta, na Escola Estadual João Blos, com alunos da terceira série, que na época tinham nove anos. Hoje, esses mesmos estudantes estão com 46 anos e testemunharam o início do programa AG Educa.

Maria do Carmo, professora aposentada, empreendeu desde 1961 uma jornada pedagógica de inovação. Com o passar dos anos, tornou-se uma peça fundamental na incorporação do universo jornalístico no ambiente escolar, um feito que perdura até hoje. Esta é a narrativa de uma mulher que, com olhos brilhantes e coração devotado, plantou as sementes do amor pela leitura e informação na comunidade campo-bonense. Além disso, ela também trilhou caminhos pioneiros na política, tornando-se a primeira mulher vereadora da cidade.

A cidade através do olhar das crianças

Desde o início de sua trajetória, Maria do Carmo acreditava no poder do aprendizado vivencial. Ela não se limitava a instruir seus alunos, mas os levava em excursões pela cidade, permitindo que se conectassem com o ambiente ao redor. Inspirada na pedagogia de Paulo Freire, ela entendia a importância de aprender através do contato direto e experiências concretas. “Levava os alunos perto da torre da Embratel, para que observassem a cidade de lá e, a partir disso, fizessem desenhos do que viam. Com isso, eles construíam a cidade com caixinhas vazias. Sempre foi um trabalho voltado ao concreto, à vivência”, disse ela.

A magia do jornal na sala de aula

A chegada do Jornal A Gazeta abriu um novo horizonte de oportunidades. Maria do Carmo viu nele um meio ideal para despertar o amor pela leitura nas crianças, um passo crucial para o desenvolvimento intelectual. Através da leitura das notícias locais, os alunos não apenas adquiriam conhecimento, mas também desenvolviam uma compreensão crítica do mundo ao redor. “A leitura é a maior informação que você tem. Você conhece a vida, o mundo, faz viagens maravilhosas pela leitura”, relata ela.

Despertando a cidadania através da informação

Maria do Carmo não apenas introduziu o jornal nas escolas, mas também o transformou em um instrumento de empoderamento cívico. Ela conectava os alunos à sua comunidade, mostrando-lhes que o jornal não era apenas uma fonte de informação, mas uma ferramenta vital para compreender e influenciar os eventos locais. “Você vai trabalhar com o livro, às vezes tem histórias que a criança fica meio perdida, porque não é o cotidiano dela. Mas a Gazeta sempre primou por trazer notícias locais. E aí eu reunia os grupinhos para lerem, cada um lia a notícia que queria, a gente trocava as notícias, e depois eles podiam falar sobre o que eles leram”.

Legado que perdura

Hoje, o legado de Maria do Carmo é mais evidente do que nunca. Seu pioneirismo na introdução do jornal na sala de aula deixou raízes profundas, influenciando jovens leitores e cidadãos informados. Seu trabalho contribuiu para criar uma cidade onde o poder da informação é valorizado. “Porque o jornal tem informações, e depois com o tempo você vai criando aquela questão crítica, quando você lê”, explica ela.

A primeira vereadora de Campo Bom

Além de sua revolução educacional, Maria do Carmo também deixou sua marca na política local. Como a primeira vereadora mulher de Campo Bom, ela enfrentou desafios e barreiras, mas isso não a impediu de lutar por uma comunidade mais justa e igualitária. Hoje, a aposentadoria não diminuiu seu fervor cívico. Maria do Carmo continua sendo uma voz ativa em sua comunidade, um farol de inspiração para aqueles que acreditam no poder da ação e da educação. “Eu fico por aqui, mas faço política. Nunca deixei de fazer”, diz ela, sorrindo.

LEIA A REPORTAGEM DE 1986

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