Ex-jornalista do AG apresenta pesquisa em conferência de mídia na Escandinávia

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Arquivo Pessoal

Giordanna apresenta pesquisa sobre povos indígenas em uma das maiores conferência de mídia da Escandinávia

Quando Giordanna Benkenstein Vallejos, 27 anos, deixou Campo Bom para estudar na pequena cidade de Volda, na Noruega, não imaginava que, em menos de um ano, estaria entre pesquisadores de ponta em um dos eventos acadêmicos mais importantes do continente. Hoje, mestranda em Media Practices na Volda University e ex-jornalista de A Gazeta, ela leva o nome da sua cidade natal para além do Atlântico, combinando investigação científica e produção audiovisual.
A oportunidade surgiu quando seu professor norueguês, Johan Roppen, percebeu seu interesse em pesquisa acadêmica. “Eles precisam de uma nova geração de pesquisadores aqui”, lembra Giordanna. Ao comentar sobre o NordMedia, uma das maiores conferências de mídia da Escandinávia, o docente revelou que o prazo de inscrições já havia encerrado. Mas, para sua surpresa, ele decidiu estender o prazo por um dia. “Precisei escrever uma ideia de projeto no mesmo dia para enviar. Foi um desafio, mas consegui”, conta. O esforço valeu a pena: seu trabalho foi aceito e ela se tornou uma das poucas estudantes de mestrado a participar de um evento dominado por doutores e pós-doutores.

Um olhar sobre o povo Sami

Sua pesquisa analisa quatro documentários sobre o povo Sami, população indígena da Noruega e de outras regiões do norte do mundo. O objetivo é compreender se há diferenças no resultado dessas produções quando o diretor é Sami ou não. “Quero entender como a bagagem cultural do diretor influencia no resultado e na percepção do público sobre questões políticas, sociais e culturais de um povo”, explica.
O interesse pelo tema nasceu de uma conexão pessoal. Giordanna tem ascendência de diversas culturas, entre elas, indígena. Ela conheceu a mãe de sua bisavó, que era indígena no Brasil. “Sempre tive um grande respeito e curiosidade pelos povos indígenas por causa dela”, afirma. Ao chegar à Noruega, ficou intrigada com o contraste entre o conceito que tinha de “indígena” e a realidade Sami: “Eles usam roupas de pele de rena, vivem no frio extremo”.
Além de estudar o tema, ela vivencia a prática como diretora de um documentário próprio sobre os Sami. Durante a produção, ela participou de manifestações contra uma empresa de mineração que pretende despejar resíduos em um fiorde localizado em território dos Sami. “Assim como os indígenas no Brasil, eles enfrentam disputas por território e diversos problemas sociais e ambientais.”
Na conferência realizada na Dinamarca, Giordanna foi a primeira a apresentar seu trabalho no grupo de pesquisa sobre linguagem de minorias. A mais jovem e a única latino-americana entre os participantes, também era a única mestranda entre doutores. “Foi muito desafiador, mas todos gostaram da minha apresentação”, conta.
O momento gerou discussões e perguntas que, segundo ela, vão enriquecer sua futura tese e possivelmente um artigo científico. Ao final, recebeu um convite para integrar um grupo internacional de pesquisa com membros da Finlândia, Dinamarca e Noruega.

Carreira, adaptação e conquistas na Noruega

Mesmo vivendo no exterior, Giordanna mantém forte ligação com Campo Bom. “Não importa o bairro ou a cidade onde você nasceu. Sonhar pequeno ou grande dá o mesmo trabalho, então sonhe grande”, aconselha. Apesar de ter nascido em Novo Hamburgo, foi em Campo Bom que passou a infância. “A rua Santo Inácio de Loyola está nos meus pensamentos todos os dias. Aprendi a caminhar na calçada da minha avó em Campo Bom, então tenho um vínculo muito forte com essa cidade. É um orgulho levar o nome de Campo Bom para a Dinamarca e para outros lugares do mundo.”
Sua trajetória no país nórdico, porém, não foi livre de obstáculos. No início, enfrentou barreiras linguísticas e dificuldade para conseguir emprego. “Comecei fazendo faxina e trabalhando em restaurantes, mas sempre com um olho no objetivo: voltar para minha área, fazer pesquisa e contar histórias, que é o que amo fazer.”
O esforço rendeu frutos rapidamente: em somente um ano vivendo na Noruega, mesmo sem dominar totalmente o idioma norueguês, Giordanna conquistou uma vaga como jornalista de vídeo para uma TV local que distribui conteúdo para três jornais da região. “Foi uma vitória pessoal e profissional, e a prova de que é possível abrir portas com dedicação e persistência.”
Ela também ressalta a valorização da ciência e da educação nos países nórdicos. “Quando apresentei minha ideia de pesquisa, a universidade imediatamente confirmou que pagaria toda a minha viagem, passagens e hotel. Eles investem em quem quer estudar e fazer pesquisa. Acho que o Brasil tem muito a aprender com isso.”

Olhar para o futuro

Agora, a jornalista-pesquisadora trabalha para aprimorar seu artigo com as críticas construtivas recebidas e já pensa no próximo passo. “Estou anotando tudo para desenvolver um trabalho bem construído, com os olhos no futuro doutorado.”
Para Giordanna, sua história é a prova de que determinação e coragem podem romper fronteiras. “O segredo é não desistir. O sonho tem que ser mais forte que qualquer adversidade.”.

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