Entre grades, uma chance de recomeço

Angélica Spengler/AG

Localizada na divisa de Campo Bom com Novo Hamburgo, Case proporciona uma oportunidade de ressocialização para jovens em cumprimento de medidas socioeducativas

Por Giordanna Vallejos

A Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase) pode ser confundida como prisão por alguns, mas ela difere de uma em diversos aspectos. Ela é uma Fundação de Atendimento Socioeducativo, que tem como objetivo ressocializar adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas e privativas de liberdade. São adolescentes de 12 a 21 anos, encaminhados pelo poder judiciário, para cumprir medida de internação. O objetivo da Fase é educar os meninos, para que possam viver em sociedade.

A Fase provém da antiga Febem. A unidade de Novo Hamburgo da Fase inaugurou no dia 9 de agosto de 2004. Em Novo Hamburgo não tinha uma casa de atendimento a menores e foi construído o Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) em 2004, para cumprimento de medida socioeducativa. “O nosso Case abrange 35 municípios da região”, afirma Eloi Spohr, diretor do Case. A instituição, criada em 2002, tem como objetivo ressocializar adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas e privativas de liberdade.

Queda na ocupação

Depois da pandemia, reduziu muito o número de adolescentes no Case. “Nós chegamos a ter 200 jovens na nossa unidade, sendo que era de 60 a capacidade e hoje nossa capacidade é 90. Hoje não pode mais existir superlotação das unidades. Estamos com 41 adolescentes”, disse Eloi.

Medida Socioeducativa

Yasmin Vitória Vieira, agente socioeducativa e chefe de equipe, explica que a medida busca proporcionar aos jovens um tempo de reflexão e estudo para que possam voltar a integrar a sociedade. Eles são avaliados a cada seis meses, com base em seu comportamento.

Segundo Yasmin, “A pena e a medida socioeducativa são diferentes. A medida é para que o jovem passe por um tempo de reflexão e estudo para voltar a integrar a sociedade, sendo avaliado a cada seis meses, dependendo do comportamento.” O sistema socioeducativo investe na ressocialização e na educação dos adolescentes, buscando progressões para medidas de semiliberdade e liberdade assistida, ao invés de focar apenas na punição.

Oportunidade de transformação

O Case de Novo Hamburgo oferece uma série de recursos e atividades que visam o desenvolvimento pessoal e profissional dos adolescentes. A unidade conta com escola, laboratório de robótica, oficina de culinária, oficina de artesanato, além de assistência médica, psicológica e jurídica. A parceria com o Caps (Centro de Atenção Psicossocial) fortalece a estrutura de saúde da unidade, proporcionando atendimentos que muitos adolescentes nunca tiveram acesso anteriormente. As visitas familiares ocorrem três vezes por semana, permitindo a conexão com familiares.

O local tem sido um ambiente propício para mudanças positivas na vida dos jovens. “Tivemos um menino que hoje é empresário, ele ficou aqui três anos, acabou se mudando de cidade e hoje ele tem uma boutique de linguiças e está fazendo faculdade. Temos um outro menino que era de São Leopoldo, saiu daqui, constituiu família e conseguiu um emprego”, compartilha Yasmin. Apesar de casos de sucesso, a mudança depende da vontade do jovem.

Mudança de olhar

A equipe do Case ressalta a importância de a sociedade enxergar esses jovens com outros olhos, compreendendo que eles erraram, mas também têm potencial para melhorar suas vidas. Yasmin enfatiza: “A sociedade tem que vê-los com outros olhos, eles erraram na vida, mas nada impede que eles possam melhorar.” Muitos desses adolescentes vêm de famílias desestruturadas e a equipe do Case busca mostrar a eles um mundo diferente.

Israel Costa, assistente de direção, destaca a importância da educação oferecida na unidade. A escola é obrigatória e a equipe trabalha sem armas, proporcionando um ambiente distinto de um presídio. Costa ressalta: “Queremos que os meninos saiam melhores daqui, do que eles entraram. Não interessa qual ato infracional ele tenha cometido. O que interessa é oportunizar uma vida diferente”.

Uma nova chance

O Case representa uma janela de esperança para adolescentes em busca de mudança. Harlei Formentin, chefe de equipe, afirma que eles são marginalizados pela sociedade, muitas vezes privados do mínimo necessário. No entanto, ao chegarem ao Case, encontram condições adequadas para tentar superar esse contexto negativo. “Eles crescem em um meio muito violento, não conhecem o pai muitas vezes, ou familiares estão presos, aqui dentro eles vão ter a atenção que eles não receberam na rua. Eles respeitam muito as mulheres que trabalham aqui, pois a figura masculina lembra o pai, que é ausente ou causou problemas. A maioria foi criado pela mãe ou avó. Muitos adolescentes nunca saíram da vila deles, nunca foram até o centro da cidade”, disse ele.

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