Emílio e Alegria: Cães comunitários são acolhidos pela cidade

Animais de rua ganham banho, castração e têm até redes sociais

Ao andar pelas ruas de Campo Bom, é possível encontrar cães de banho tomado, bem alimentados, castrados, sem parasitas e com casinhas para se abrigar. Apesar de essa não ser sempre a realidade e muitos animais ainda sofrerem maus-tratos, a comunidade se destaca no cuidado aos cães e gatos comunitários.

Dois exemplos disso são o Alegria e o Emílio Augusto. Eles vivem pelo Centro de Campo Bom, e tem até plaquinha de identificação como cães comunitários e redes sociais. No seu Facebook, Emílio é “Guia turístico na empresa Prefeitura de Campo Bom” e as pessoas compartilham locais por onde ele marcou presença, que vão desde salas de aula, até a Igreja Católica. A noite, Alegria e Emílio Augusto latem no portão da protetora Maria Helena, que abre para que todas as noites eles tenham um abrigo.

Os cães do bairro Firenze

No bairro Firenze, Caramelo, Fiona, Amiguinho e Bonita seguem o carro de Amanda Vaz Ruppenthal e Franciele Maria Grawer, voluntárias da ONG Campo Bom pra Cachorro e proprietárias de um banho e tosa. Religiosamente, os cães comunitários seguem o veículo até o ponto onde recebem duas refeições por dia e água, que retribuem com os rabinhos abanando.

Além de alimentar os cães da região, elas administram Bravecto, que evita parasitas, e recolhem animais de rua para castração.

“O trabalho que fazemos com eles é totalmente voluntário. Temos uma parceria com o Cempra, reunimos os cachorros de rua para levar lá e fazer a castração. Começamos a dar comida, começaram a vir outros e virou isso, quase um restaurante dos cães comunitários. Também levamos os cães na Feevale para aplicar as vacinas”, disse Fran.

Corrente do bem

Quando elas saem, sempre levam junto potes com ração, para distribuir aos cães nas ruas. Esse simples gesto pode ser replicado por qualquer pessoa e tem um impacto positivo no bem-estar dos animais. Com o passar do tempo, elas começaram a receber ajuda por meio de doações de alimentos e ração, para que continuassem esse trabalho. “Não temos do que nos queixar, bastante gente ajuda. É uma corrente. As pessoas auxiliam com doação e eu e a Amanda fazemos o trabalho mais braçal”, explica Fran.

Dignidade para os animais

“Tem muitas pessoas que acham que ajudar um cão de rua é colocar para dentro de casa. E eu posso colocar dez aqui em casa, que semana que vem terá o mesmo número na rua. Então fazemos o que podemos, alimentamos, damos dignidade para os animais de rua, mas sabemos que o melhor para eles é não estar na rua, por isso tentamos tirar fotos, divulgar para adoção. Nós também castramos, damos Bravecto para ter controle de parasitas. Não conseguimos fazer com todos, porque tudo é caro, mas temos muitos amigos que ajudam com doação de comida e ração, por exemplo. Pelo menos fome e sede, eles não passam”, relata Amanda.

Ações que mudam a realidade

Elas realizaram uma ação solidária que resultou na arrecadação de 14 casinhas para cães comunitários, cada uma com um custo médio de R$ 140,00. Algumas dessas casinhas foram instaladas na pista de atletismo, outras em frente à Arezzo, por exemplo. Além disso, elas já realizaram por duas vezes, vendas de pizzas, iniciativa que contribuiu para a doação de 56 roupinhas cirúrgicas para o Cempra e 180 sachês.
Embora hajam críticas de que o foco na causa animal negligencia a ajuda às pessoas, elas defendem que suas ações têm um impacto positivo em ambas as áreas.

Bairro Aurora tem todas as fêmeas

Rosana Reinheimer, protetora animal, conseguiu um feito quase inacreditável: castrar todas as fêmeas, de cães e gatos, do bairro Aurora. Ela busca os animais que são castrados no Hospital Veterinário da Feevale gratuitamente. Ela prova que uma pessoa engajada pode, sim, mudar a realidade da sua comunidade.

Rosana começou a fazer o trabalho há 17 anos. A protetora acompanhou a nossa reportagem para as invasões Bicho de Pé, que agora se chama Arroio Schimidt, e invasão Porto Alegre, no bairro Aurora. Durante o percurso, nenhum dos animais estava desnutrido, com sarna, mancando, com pulgas ou doente. Todas as fêmeas tinham a marca da castração, sendo uma conquista que ela exibe com orgulho. “Nós damos Bravecto duas vezes por ano, alimentamos e castramos. São 78 cães na antiga Bicho de Pé e 29 na Porto Alegre e mais os gatos, daria para dizer que são uns 200 animais. Já fiz muitas castrações, só esse ano foram 58 fêmeas, entre cães e gatos”, relata Rosana.

Cuidado aos animais das invasões

Por um instante, foi possível esquecer que os animais não tem dono. Com pelo brilhoso, castrados, vacinados, sem parasitas e até gordinhos, eles são o reflexo de uma comunidade mais consciente e de pessoas como Rosana, que dedicam a vida a causa animal.

No caminho entre as residências da invasão, de casa em casa, ela ia perguntando quem gostaria de castrar o seu animal. Ela não apenas se limitava a castrar os animais de rua, mas também os com tutores. Isso porque em invasões, eles não têm comprovante de endereço, impossibilitando a castração. Dessa forma, Rosana representa os moradores, fazendo essa ponte entre o Hospital Veterinário e os donos – um trabalho voluntário transformador que pode ser replicado em outros bairros.

O fim dos bichos de pé

“Brinco que o nome da invasão Bicho de Pé só trocou porque dou remédio Bravecto para eles, que acabou com os bichos de pé e pulgas. O posto de saúde daqui tinha uma demanda de crianças com furúnculo, com doenças e parasitas transmitidos pelos animais, como pulgas, carrapatos, sarnas, bicho de pé, coisas assim. Quando comecei a tratar os animais com Bravecto, essas doenças, que deram o nome da própria bicho de pé, foram parando. O próprio posto falou para a prefeitura que diminuiu muito o número de atendimentos. Conseguimos controlar uma zoonose. O trabalho que fazemos ajuda as pessoas também, não só os animais”, explica ela.

Como ajudar no seu bairro | “Outras pessoas podem fazer esse mesmo trabalho voluntário. É só ir à prefeitura com comprovante de renda e endereço. Quem não tem comprovante de endereço (invasões), alguém pode mandar um e-mail para solicitar castração (cempra@campobom.rs.gov.br). Qualquer pessoa com um comprovante de endereço em Campo Bom consegue fazer isso”, Rosana.

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