Dia do Orgulho Autista: Desafios e superações em busca de inclusão

Giordanna Vallejos/AG

Por Giordanna Vallejos

No dia dedicado ao Orgulho Autista, celebrado em 18 de junho, o jovem Gustavo Siqueira Fritz, de 18 anos, autista e estudante do EJA (Educação de Jovens e Adultos) na Apae, compartilha sua jornada de descoberta, dificuldades superadas e o valor da inclusão. Através de suas palavras, é possível compreender a importância de acolher e valorizar as potências de cada pessoa com autismo.

Enfrentando desafios e superando obstáculos

Gustavo relembra seus primeiros anos de vida, quando sua diferença começou a ser percebida. Em uma escola regular, seus colegas estranhavam sua forma de comunicação e o isolamento era uma constante. “Eu era bem jovem e notaram que tinha algo diferente comigo”, conta Gustavo.

Foi nesse momento que iniciaram as visitas aos psicólogos, revelando que Gustavo era autista. Além disso, ele também enfrentava dificuldades para pronunciar algumas letras, o que gerava confusões como falar “pato” em vez de “prato”. O autismo trouxe consigo o pânico noturno e a dificuldade para dormir, que até hoje são desafios presentes em sua vida.

“Aqui eu tenho amigos”

Após uma jornada de trocas de escolas e rejeição, Gustavo encontrou na Apae um ambiente acolhedor. “Quando comecei a vir aqui, gostei da escola porque aqui eu tenho amigos”, afirma. Anteriormente retraído e com dificuldade para se comunicar, o jovem encontrou na Apae um lugar onde se sente pertencente.

Sua vida, que antes se resumia a ficar em casa, ganhou novas perspectivas e experiências. Gustavo descobriu um mundo além das portas de sua residência e sentiu-se parte de algo maior. “No passado, minha vida era só ficar em casa. Tinha uma época que fiquei meio deprimido, eu fechava a porta e ficava olhando TV na minha casa, agora é diferente, tem mais coisas do que a minha casa na minha vida. Naquela época eu nem sabia mais como era o mundo lá fora, era tão estranho ver as coisas na TV, coisas que eu nunca vi, porque eu ficava preso em um lugar. Quando eu era criança, não tinha amigos e não saía para nenhum lugar e era bastante solitário. Tinha uma época em que eu pensava que era tudo só um sonho”, disse ele.

“Eu sou bom em criar histórias”

Gustavo revela sua veia criativa ao mencionar sua habilidade em criar histórias. Inspirado por filmes, animações e tudo o que leu, ele uniu todas essas referências em uma narrativa inventada por si. “Eu sou bem criativo”, afirma com orgulho. Sua dificuldade, no entanto, reside na comunicação com outras pessoas. Contudo, Gustavo encontra no apoio de seus quatro irmãos um suporte essencial e percebe o carinho que eles têm por ele.

“Agora é o momento de viver”

Questionado sobre seus planos, Gustavo demonstra uma postura focada no presente. “Eu não pensei tão longe, só estou ciente que agora é o momento de viver, não ficar me preocupando com as coisas do futuro”, afirma. O tempo mudou sua essência, transformando-o de uma criança agitada em um jovem que encontrou seu caminho. Gustavo ressalta a importância de cada indivíduo aprender a lidar com suas dificuldades e valorizar suas conquistas.

A visão dos profissionais

Fátima Rhoden, professora da Apae, destaca a importância de trabalhar com pessoas autistas desde a infância, enfatizando a estimulação precoce. Ela observa um aumento significativo no número de alunos autistas na instituição e ressalta a necessidade de promover a qualidade de vida e o senso de pertencimento. As palavras de Gustavo validam o trabalho realizado na Apae, destacando a importância de trazer suas experiências à tona.

Daiane Silva, psicóloga e coordenadora clínica, destaca a riqueza das falas de Gustavo para a comunidade em geral. Ela enfatiza que cada pessoa com autismo é única, e que o diagnóstico precoce auxilia no desenvolvimento cognitivo. O olhar para as potências individuais e a valorização das características de cada indivíduo são fundamentais para o trabalho de inclusão.

No Dia do Orgulho Autista, as histórias de Gustavo e o trabalho da Apae lembram que a inclusão e a valorização das potências individuais são essenciais para construir uma sociedade mais acolhedora. Cada pessoa autista merece respeito, apoio e oportunidades para desenvolver suas habilidades e viver plenamente. O orgulho autista é o orgulho de valorizar a diversidade e enxergar o potencial em cada indivíduo.

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