Conheça a história de Chicão, um médico, arqueiro e colunista do AG

Giordanna Vallejos/AG

Campo Bom encontra sua identidade entrelaçada com a figura do Dr. Francisco Dias Lopes, carinhosamente conhecido como Chicão. Ele já foi agraciado com o troféu mérito gigante e emprestou seu nome para o ginásio da Emef Octacílio Fauth. Chicão tem 77 anos, é um dos primeiros médicos da cidade e trabalhou com o Dr. Lauro Reus, que dá o nome ao Hospital do município.

Ao chegar em sua clínica, é possível perceber o motivo do apelido. Apesar de ser um homem muito alto, o que mais se destaca é a sua sensibilidade. Ao ouvir meu nome, ele prontamente anotou e fez questão de me chamar por ele — durante toda a entrevista. Então percebi nesse detalhe, o motivo de seu sucesso na medicina: sua capacidade de empatia com as pessoas.

Uma jornada inspiradora

Como um dos primeiros médicos a desbravar os caminhos de Campo Bom, Chicão, iniciou uma jornada que transcenderia a medicina. Em tempos em que a cidade ainda não havia atingido o ápice de sua movimentação, ele desempenhou um papel vital na Policlínica, que, com o tempo, se transformou na Multiclínica. “Era comum os estudantes de medicina na época, em final de curso, viver fazendo plantões em diferentes cidades. Cheguei aqui e comecei a tomar conta da Policlínica. Não tinha muita gente que queria vir para cá, porque não tinha tanto movimento e não estava dando tanto lucro assim. Aceitava vir porque gostava do silêncio, do ambiente da cidade, fui ficando”, disse ele.

Em meio a um cenário onde o lucro não era o principal objetivo, Chicão aceitou o desafio de cuidar da saúde dos campo-bonenses. Seu compromisso e amor pela cidade cresceram a ponto de abrir seu primeiro consultório aqui, mesmo sendo natural de Porto Alegre. Com o passar dos anos, a clientela floresceu, e sua relação com o hospital e as fábricas locais se fortaleceu. “Fui médico do Reichert. Depois comecei a fazer cirurgia geral com o Dr. Juarez no hospital e partos com o Dr. Lauro Reus”, explica.

O arqueiro

Além de seu compromisso com a medicina, Chicão viveu uma trajetória excepcional como arqueiro. Com títulos de campeão pan-americano, brasileiro e gaúcho de arquearia, ele não apenas fez parte da equipe olímpica brasileira, mas também treinou as futuras gerações de arqueiros, deixando uma marca inegável no esporte.

Do Coojornal à coluna no AG

No mundo da mídia, Chicão desempenhou um papel fundamental como fundador do Coojornal, um veículo de orientação não comunista, mas claramente antigoverno, no período da ditadura. Ele entrou no projeto com um simples ato: a compra de uma máquina de escrever. No entanto, seu destino o levou a um encontro com A Gazeta, que teve uma coluna de Chicão na primeira edição.

Semanalmente, o médico deixava sua marca no Jornal A Gazeta com sua coluna, revelando uma perspectiva única sobre o registro de memórias, enquanto saboreava pão com linguiça, oferecido por Jair Wingert (hoje vereador). Ele relembra da equipe do jornal com saudades, e enche os olhos de lágrimas, ao recordar daquele tempo.

Um breve flerte com a política

O médico também se aventurou na política, abraçando a candidatura de Jair e servindo como pedra de alicerce em uma campanha que pretendia revolucionar a saúde em Campo Bom. Embora tenha perdido a eleição, sua visão de uma medicina centralizada permaneceu inabalada. No entanto, ele optou por não se envolver mais em questões partidárias após sua breve incursão na política.

Continuando o trabalho

Aos 77 anos, Chicão continua seu trabalho incansável na clínica, onde, após a entrevista, iria voltar a atender pacientes. Sua história é um testemunho de compromisso, paixão e versatilidade. Campo Bom pode se orgulhar de ter Chicão, que foi diversas pessoas em uma só: médico, arqueiro, colunista e fundador de jornal e é mais do que uma lembrança; é um legado vivo que continua a inspirar gerações futuras.

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