ConcursoEcoAR premia quatro projetos de sustentabilidade

Foto: Mauri Spengler

Iniciativa com patrocínio e curadoria da Arezzo&Co planeja fomentar ideias que tragam soluções para os desafios ambientais e sociais do mundo da moda

O grupo Arezzo&Co, que reúne as marcas Arezzo, Schutz, Anacapri, Alexandre Birman, Brizza, Alme, Reserva, Carol Bassi, Vans, Oficina Reserva, Reserva Go, Simples, Reversa, Reserva Ink, Reserva Mini, BAW Clothing, TROC, Vicenza e a italiana Paris Texas, além do marketplace ZZMALL, patrocinador da primeira edição do concurso ecoAR, anuncia a premiação dos quatro vencedores da iniciativa, em cerimônia que realizada no dia 30 de agosto, na sede do grupo, em Campo Bom. O projeto, realizado pelo Ministério da Cultura, tem como objetivo oferecer a estudantes, profissionais e demais interessados em sustentabilidade e moda, a possibilidade de apresentar soluções sustentáveis para os desafios desse mercado.

O concurso teve 257 projetos inscritos em duas categorias: Produto, que conta com as subcategorias Matéria Prima e Processos, e Pós-Consumo, que se subdivide em Reaproveitamento de Materiais e Reinserção no processo produtivo.

Quatro projetos foram escolhidos: Farfarm, Manicolor, Banco de Resíduos Têxteis e Bruk. Os trabalhos vencedores (um de cada subcategoria do concurso) receberão um prêmio no valor de R$ 10 mil reais cada. Além disso, também ganharão um troféu, certificado de participação, terão seus trabalhos publicados em um livro e participarão em duas exposições.

Suelen Joner, Head de Sustentabilidade e D&I da Arezzo&Co e curadora da premiação, explica o desafio de encontrar matérias-primas inovadoras para serem usadas em grande escala. “É difícil encontrar soluções que atendam a necessidade da indústria e que sejam viáveis ao mesmo tempo, assim como alternativas para o desafio do pós-consumo da moda. Com o concurso, pudemos identificar ideias inovadoras que podem ser trabalhadas para ganhar escala”, diz.

Além de Suelen, Rony Meisler, CEO da AR&Co, Luanna Toniolo, CEO da TROC, platafoma de second hand, e Luiz Carlos Robinson, professor e consultor de sustentabilidade, também atuaram na avaliação dos projetos.

Confira abaixo mais informações sobre cada uma das iniciativas vencedoras

Categoria: produto

Subcategoria: processo

Vencedor: Beto Bina

Projeto Farfarm

A Farfarm nasceu com a missão de buscar alternativas sustentáveis para transformar a indústria têxtil no Brasil. O algodão é a fibra natural mais utilizada na moda, mas seu cultivo convencional depende muito de agentes químicos e da água em uma indústria que precisa se reinventar especialmente no que se refere à produção. Esse é o problema que a Farfarm procura resolver por meio da agrofloresta, para abastecer o mercado têxtil de matérias-primas genuinamente ecológicas, apoiando pequenos produtores e gerando baixo impacto socioambiental. O objetivo é desenvolver uma cadeia de abastecimento de longo prazo que regenere o solo, previna o desmatamento e aumente a saúde e o bem-estar dos agricultores, e simultaneamente a resiliência econômica das comunidades vulneráveis. Por meio de educação e assistência técnica, promove-se a conscientização sobre a adoção da agricultura sustentável. A organização capacita as famílias nesse sistema e no cultivo do algodão, apoiando-as na conquista de certificações, em contratos e na formação de preço. Facilita ainda a troca comercial entre os grupos e as marcas de moda e ajuda a gerir projetos dentro da cadeia produtiva, como créditos de carbono. Ao final do processo, desenvolve-se uma matéria-prima que regenera a natureza, promove desenvolvimento social e conta histórias que agregam valor à percepção da marca. “Acreditamos que, se uma empresa regenera a natureza e empodera pessoas vulnerabilizadas, ao mesmo tempo que produz moda, ela conquista um papel relevante na sociedade. Em um mundo cada vez mais impactado por mudanças climáticas, talvez essa seja uma boa justificativa para as marcas existirem”, diz o fundador Beto Bina.

Categoria: Produto

Subcategoria: processos

Vencedor: Siohudi Paulino de Lima

Projeto Manicolor Corante têxtil à base de casca de mandioca

Durante um ano, o estilista Sioduhi Paulino de Lima, do povo piratapuya, do território indígena do Alto Rio Negro no Amazonas, pesquisou um corante natural, cuja tecnologia empregada transforma parte da raiz da mandioca, considerada resíduo, em corante têxtil, o Maniocolor. Vale lembrar que o processo químico de tingimento é tido como um dos principais poluidores das águas do mundo, comprometendo 20% dos recursos hídricos do planeta, conforme dados do Banco Mundial. O conceito desenvolvido é fruto da observação dos modos tradicionais de processamento da mandioca pelos povos originários do Rio Negro, pois grande quantidade dessa casca é descartada na colheita. Para essa produção, houve a reinserção do descarte na cadeia produtiva, sendo que a casca após a extração do corante serve ainda de adubo por meio da técnica de compostagem. O Maniocolor conecta-se com os sistemas agrícolas das comunidades indígenas ou não, e agrega valor social, cultural e ambiental, sendo uma solução escalonável e biodegradável. Outras opções também estão sendo avaliadas, como folhas e cascas de frutos. Em dezembro de 2022, o estilista apresentou, na Brasil Eco Fashion Week, a primeira coleção com o uso dessa tecnologia, a Manioqueen. O projeto, desenvolvido com o sócio Adeilson Lopes, foi o resultado de uma bolsa do programa de aceleração Inova Amazônia, promovido pelo Sebrae Nacional, com o apoio do Sistema Agrícola tradicional do Rio Negro (SAT-RN). “Em vez de comercializar o corante, estamos comercializando tecidos tingidos por causa da viabilidade econômica. Além disso, as peças da minha coleção começaram a ser vendidas em Manaus”, afirma Sioduhi, que colocou a Amazônia no mercado de corantes naturais.

Categoria: Pós Consumo

Subcategoria: inserção no processo produtivo

Vencedor: Suzana Barreto Martins

Projeto Banco de Residuos Têxteis

O Banco de Resíduos Têxteis (BRT), criado pelo grupo de pesquisa Design, Sustentabilidade e Inovação (DeSIn), do departamento de Design da Universidade Estadual de Londrina (UEL), tem como objetivo dar a correta destinação a milhares de toneladas de resíduos têxteis descartados anualmente no aterro sanitário de Londrina, PR. A iniciativa é pioneira no Brasil e atua em três dimensões da sustentabilidade: a ambiental, com a redução desses impactos; a social, com a geração de trabalho e renda para a cooperativa de materiais recicláveis; e a econômica, a partir de um modelo de negócio para a economia circular. O sistema consiste no processamento dos resíduos industriais e dos de pós-consumo por meio de um maquinário especial, instalado em cooperativas, com capacidade de desfibrar 20 toneladas de resíduos por mês. Empresas associadas ao BRT e integrantes do Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Vestuário do Paraná (Sivepar) garantem a destinação correta dos resíduos industriais. As cooperativas organizam os resíduos pós-consumo descartados em pontos de coleta instalados em dois shoppings da cidade. O material processado pode servir à confecção de novos produtos e à aplicação em outros segmentos, e até voltar para a indústria têxtil como fio. “Trabalhamos em um contexto de vulnerabilidade social e pretendemos priorizar a contratação de catadores aposentados. As roupas em bom estado vão para bazares e a venda é revertida para as cooperativas”, diz Suzana Barreto Martins, pesquisadora em design para sustentabilidade na UEL e coordenadora do projeto de logística reversa de resíduos têxteis industriais e pós-consumo.

Categoria: Pós Consumo

Subcategoria: Reaproveitamento de materiais

Vencedor: Arthur César

Projeto: Bruk

Criada em 2016, a empresa de vestuário Bruk Wear começou há dois anos a coletar materiais que perderam utilidade para dar a eles uma nova função, transformando-os em acessórios exclusivos e de tiragem limitada. Nessa experiência, a câmara de ar e o colchão inflável rasgados ou furados combinam-se com um cinto de carro e viram uma bolsa. O tecido do guarda-chuva e os retalhos de jeans ganham formas de chapéus. Para reduzir ainda mais os impactos ao meio ambiente, a empresa mineira utiliza água de reuso ou de chuva para higienizar os materiais que serão reaproveitados e depois cortados em máquinas especiais e costurados por uma pequena equipe local. “Minha mãe foi costureira durante anos, um trabalho que vi ser pouco valorizado, por isso faço questão de dar pagamento justo e enaltecer minha esquipe”, diz Arthur Cesar Silva de Assis Santos, o idealizador do negócio. E, para incentivar seus seguidores a aderirem um estilo de vida mais sustentável, a Bruk produz vídeos informativos, apresentando dados e alternativas de modo a criar uma comunidade que entenda a importância de se consumir produtos feitos de resíduos. “Nosso objetivo não é só vender o produto, mas mostrar que é preciso colocar a sustentabilidade no nosso dia a dia. O comércio das peças acaba virando consequência.” Nas coleções, há também roupas feitas com itens garimpados em brechós. “São peças manchadas ou rasgadas que não seriam vendidas e podemos aproveitar parte do tecido para fazer jaquetas, shorts e outros itens”, afirma o jovem empreendedor.

Sair da versão mobile