Brasil enfrenta desafio em saúde mental

Entrevista com psicóloga de Campo Bom revela impactos e caminhos para superação

Por Giordanna Vallejos

O cenário da saúde mental no Brasil é motivo de preocupação crescente, especialmente após o relatório global Estado Mental do Mundo 2022, que posicionou o país em uma alarmante 3ª posição entre 64 nações analisadas. Para entender melhor essa realidade e os desafios enfrentados em âmbito local, conversamos com a psicóloga Patricia Hoffmann Schwengber, de 26 anos, que atua na cidade de Campo Bom. Ao longo da entrevista exclusiva, a profissional destaca os fatores que podem contribuir para o índice negativo, as principais questões de saúde mental enfrentadas no consultório, os impactos da pandemia, e oferece informações essenciais sobre os transtornos mais comuns – além de onde buscar ajuda.

Jornal A Gazeta – Conforme o relatório global, o Brasil possui um dos piores índices de saúde mental. Quais são os elementos que, em sua visão, contribuem para esse resultado negativo?
Patricia Hoffmann Schwengber –
Acredito serem diversos fatores que contribuem negativamente para esta colocação, é muito importante abordar essas questões via políticas públicas, programas de conscientização e investimento em saúde mental para melhorar o bem-estar da população. Alguns fatores são: violência, períodos de instabilidade econômica, ambientes de trabalho estressantes, desigualdade entre classes sociais no Brasil e relações familiares disfuncionais. Todos esses fatores podem ter um impacto devastador na saúde mental das pessoas, levando a problemas emocionais e psicológicos.

AG – Em uma visão local, em relação a Campo Bom, quais são as principais questões de saúde mental que você percebe no seu consultório?
Patricia –
Atualmente observamos o quanto as pessoas falam sobre a importância de cuidar da saúde mental, ter autoconhecimento, e também a procura devido aos acontecimentos da pandemia. A grande procura é devido à ansiedade, depressão, dificuldade em lidar com algumas emoções, sendo a principal, a raiva. Como a procura por psicoterapia aumentou, também temos pessoas que estão tentando entender e aprender sobre alguns diagnósticos que estão sendo recebidos, sendo bipolaridade, TDAH, Borderline e TEA.

AG – Como você percebe o estado mental das pessoas antes e depois da pandemia?
Patricia –
Os problemas de saúde mental sempre existiram, mas agora, após passarmos pela pandemia estamos vendo com uma força maior, pois as pessoas vivenciaram sentimentos de incerteza, insegurança, perdas de familiares e amigos e as pessoas em algumas situações ainda não processaram o que aconteceu, então isto continua vindo, algumas sequelas dessa pandemia já podem ser vistas, mas algumas ainda descobriremos. O que chama a atenção é o grande número de crianças e adolescentes que estão vindo para o consultório, é neles que vemos essas sequelas.

AG – Quais são os transtornos mais comuns e possíveis sintomas?
Patricia –
Os sintomas podem variar significativamente entre as pessoas e diferentes transtornos mentais podem compartilhar características semelhantes. Ansiedade: Ansiedade excessiva, preocupação ou medo. Inquietação, irritabilidade ou tensão muscular. Pensamentos obsessivos ou compulsivos. Ataques de pânico, acompanhados de palpitações, sudorese e tremores. Evitar situações que causam ansiedade.
Depressão: Sentimentos persistentes de tristeza, vazio ou desesperança. Perda de interesse ou prazer em atividades anteriormente apreciadas. Mudanças no apetite e no peso. Fadiga ou perda de energia. Dificuldade de concentração e tomar decisões. Pensamentos suicidas ou autodepreciativos.
Transtorno Bipolar: Episódios alternados de mania (euforia, energia excessiva, comportamento impulsivo) e depressão (sintomas semelhantes à depressão).
Transtornos do Estresse Pós-Traumático (TEPT): Flashbacks ou memórias intrusivas de um evento traumático. Pesadelos relacionados ao trauma. Evitar situações ou lugares que lembrem o evento traumático. Hipervigilância e reações exageradas a estímulos que lembram o trauma.

AG – Como qualquer pessoa de Campo Bom, independente da renda, pode buscar ajuda?
Patricia –
É importante procurar a ajuda de um profissional da área da psicologia para entender melhor estes sintomas. Alguns locais que podem ser procurados em Campo Bom são o CAPS e os postos de saúde dos bairros que são atendimentos gratuitos, também tem o CEMEDE gratuitamente, a entrada pelo último é através do encaminhamento das escolas. Existem psicólogos, assim como eu, que realizam atendimento de forma social, sendo de forma paga, porém, por um valor menor. Existe o projeto que está vinculado a Igreja Católica, chamado de atendimento às famílias em situação de crise, e esse projeto também existe na igreja evangélica.

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