Arteterapia: quando a arte e a psicologia se encontram para a cura

Giordanna Vallejos/AG

Conheça a história do grupo de arteterapia do Caps de Campo Bom

Por Giordanna Vallejos

Um grupo de mulheres se reúne e cria esculturas usando suas próprias mãos como molde. Nestas artes, surgem diversas questões do subconsciente, trabalhadas pela arteterapeuta do Caps, Viviane Maria de Oliveira, com formação em artes visuais e especialização em arteterapia.

“Começou em 2018 o atendimento aqui, a proposta quando eu vim para cá era suprir a ausência das oficinas de artesanato que tinha antigamente, mas como eu estava me especializando, trouxe a proposta da arteterapia. A arteterapia é uma união entre os conhecimentos da psicologia e da arte, para ajudar os pacientes a acessar os seus conflitos internos”, explica Viviane.

A arteterapia não é uma terapia alternativa, mas sim, uma área do conhecimento que exige formação superior. Ela ajuda o paciente a lidar com traumas e questões existenciais, que muitas vezes são difíceis de trabalhar na terapia mais tradicional, porque a abordagem dentro da psicologia e da psicanálise é a fala, e nem todos podem se sentir confortáveis para verbalizar as emoções ou tem a cognição necessária para esta finalidade. “Sabendo que o inconsciente muitas vezes se revela melhor pela imagem, a arte vem para suprir essa parte”, disse a arteterapeuta.

Na atualidade, são cerca de 30 pacientes no Caps de Campo Bom, atendidos na arteterapia. As aulas ocorrem todos os dias, tem duração média de três horas com lanche e intervalo. Durante o ano, são realizados passeios em museus e locais relacionados com os temas trabalhados em sala de aula.

Os grupos de arteterapia são divididos entre masculino, feminino, além de infantojuvenis e adultos, que variam de 10 até mais de 60 anos. Para participar, é preciso ser encaminhado por um médico do posto de saúde do bairro de referência ou pelo acolhimento do próprio Caps.

O processo da arteterapia

“Trago uma proposta de trabalho, como, por exemplo, sobre o luto, resiliência, autoestima. Dentro disso, na criação da arte começam a aparecer muitas coisas que eles não percebem, mas depois eles decodificam o símbolo. Primeiro fazemos a imersão, para que o paciente relaxe, acesse o interno, depois iniciamos com uma música ou trazemos uma fala, em cima dessa fala eles podem trazer algumas questões. Em sequência, passo uma proposta artística, a última que fizemos foi uma escultura das próprias mãos. Nós usamos vários materiais, como pintura, escultura. Depois vem a partilha, sendo a hora da reflexão e fazemos o fechamento”

Viviane Maria de Oliveira, arteterapeuta

Transformação pela arte

Viviane relata que tinha um paciente homem, que chegou com o quadro de fobia social, que não fazia o lanche, não interagia. Ela explica que depois de algum tempo, ele passou a conversar, trazer relatos de casa, interagir com os colegas e nunca falta nos encontros. “A arte transforma vidas, pela própria experiência do sentir. Porque trata de subjetividade, de sensibilidade, de inteligência emocional, de como ser e estar neste mundo. Quando uma pessoa começa a desenvolver a criatividade, cria uma rapidez para resolver problemas, não é um mero fazer artístico, é muito mais complexo que isso”.

A arteterapeuta também relembra de uma paciente que sofreu um grande luto. Com a proposta da criação da escultura com a própria mão, ela iniciou com raízes e ia fazer toda a sua arte simulando lodo, que representava sua dor exposta. Durante o processo terapêutico, ela decidiu pintar flores em vez do lodo, simbolizando uma recuperação do próprio subconsciente através da arte.

Opinião das participantes

“A arteterapia para mim é muito boa, a gente é muito bem atendido pela Vivi. Eu não sou muito boa em nenhum trabalho, mas a gente se diverte fazendo. Aqui nos sentimos iguais às outras colegas. Uma das poucas coisas que eu gosto é de vir na arteterapia, se é para passar com a psicóloga, eu já corro. Gosto de ser tratada aqui e quero ficar aqui. Eu não sou de sair de casa, a única coisa que gosto de sair é para vir na arteterapia”

“Já faz seis anos que venho aqui. Eu cheguei muito mal, a arteterapia me ajudou muito. O dia que senti que estava muito mal, foi o dia que tentei pegar uma frigideira cheia de óleo e jogar no meu esposo. Eu queria ver sangue, pensava em matar. Depois que vim para cá, isso foi passando e hoje sou outra pessoa, consigo conviver com todo mundo. Sempre fui uma pessoa bondosa, fazia ações solidárias, só que quando fiquei doente, me transformei em alguém que não era. Não queria fazer essas coisas, mas quando eu via, já tinha feito. Tem gente que é preconceituosa, nos chamam de loucos. Temos, sim, problemas mentais, por isso que viemos aqui fazer o tratamento. Foi pela Vivi me ajudando que eu não precisei ser internada”

“Para mim a arteterapia é muito boa. Estou achando legal vir para o grupo, para sair de casa. Eu raramente saio de casa, se não é para vir à arteterapia. Para mim, é muito bom poder ver as minhas colegas, conversar sobre a semana. Eu acho que arteterapia é algo que me ajuda bastante, em todos os sentidos”

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