Artesãs campo-bonenses criam bonecas que auxiliam no combate ao abuso infantil

Forma lúdica favorece o aprendizado e simplifica abordagem do tema

Por Giordanna Vallejos

O Brasil tem enfrentado sérios desafios em relação ao abuso infantil, uma realidade alarmante que afeta milhares de crianças no país. Conforme a Agência Brasil, nos quatro primeiros meses deste ano, 17,5 mil violações sexuais contra crianças ou adolescentes foram registradas pelo Disque 100. Os dados são do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania e apontam um aumento de quase 70% em relação ao mesmo período de 2022.

No entanto, iniciativas inovadoras e educativas vêm surgindo para combater esse problema. Recentemente, as irmãs Fernanda Chaves, artesã, e Roberta Chaves, artesã e cantora, proprietárias da Frescuriti, criaram uma solução criativa: bonecas educativas para ajudar profissionais de saúde a abordarem o delicado tema do abuso, com as crianças. Essas bonecas têm recebido feedbacks extremamente positivos, especialmente de profissionais que atuam na rede pública de saúde, que destacam a importância do recurso para a conscientização e a prevenção desse tipo de violência.

“Desenvolvemos a boneca a pedido de uma cliente. A partir desse pedido, e das postagens no Instagram, confeccionamos outras bonecas para profissionais de saúde. Tivemos muitos feedbacks positivos sobre a boneca. Tanto pelas redes sociais, quanto pessoalmente. Temos clientes que trabalham na rede pública de saúde, e relataram que esse recurso, seria muito importante para poder abordar e conversar com crianças em atendimento, por exemplo”, disse a artesã Fernanda Chaves.

Ela explica que por serem artesanais, os bonecos podem ser personalizados, como a cor do cabelo, pele e gênero, por exemplo. Fernanda também explica como a forma lúdica de tratar de um tema complicado pode simplificar tudo. “Por se tratar, muitas vezes, de um assunto delicado, o uso de um boneco, pode deixar mais leve para os pais a tarefa de explicar aos filhos sobre seu corpo. Crianças aprendem brincando, então o recurso facilita para que elas entendam. É muito importante que a criança, desde pequena, saiba onde pode ser ou não tocada. Sabendo sobre os limites e conhecendo seu corpo, é muito mais fácil que ela possa entender se algo de errado acontecer”, relata a artesã.

Semáforo do toque

A brincadeira é simples: com a supervisão de adultos de confiança, a criança deve marcar de verde, vermelho ou amarelo — em alusão ao semáforo de trânsito — os locais do corpo dela em que outras pessoas podem e não podem tocar. Isso é importante, inclusive, para que ela aprenda a respeitar os limites do próprio corpo e do corpo do outro. O boneco mede cerca de 30 cm de altura com a parte de trás do cabelo removível. Acompanha os “sinais” em verde, amarelo e vermelho, presos por velcro.

Programa Saúde na Escola

A Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Smec) de Campo Bom informa que, para lidar com a violência e abuso em sala de aula, é fundamental ter mecanismos preventivos e estratégias de intervenção que promovam o diálogo entre a escola, aluno, família e rede municipal. “Para além do papel de identificação e notificação, a escola auxilia na prevenção, abordando o tema ao longo do trajeto escoar das crianças e adolescentes, respeitando as fases de crescimento e o assunto a abordar, respeitando as formas de expressão da sexualidade, sem reprimi-las. A educação sexual é um dos pilares do Programa Saúde na Escola no município. Realizamos atividades para adolescentes, como rodas de conversa nas escolas com temas transversais (tipos de violência, consentimento, cuidado e a responsabilidade), temos também a formação com palestras sobre violência, causas e suas manifestações, com os professores”, explica a secretária Simone Schneider.

Educação como rede de proteção

As atividades educativas para os pequenos (práticas corporais, desenhos, atividades que envolvam respeito e empatia) são instrumentos de informação e prevenção.
Todas as atividades realizadas no âmbito educacional visam ensinar a criança e o adolescente a reconhecer seus direitos e o respeito ao seu corpo e ao corpo do outro, fortalecendo e capacitando a sua defesa em situações de abuso.

A escola como rede de proteção assegura o acolhimento e o cuidado, encaminhando a situação à rede municipal (Creas, Conselho Tutelar, Assistência Social, Sistema de Saúde) para assegurar a garantia dos seus direitos.

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