Imigrantes no Brasil, o casal venezuelano Oscar e Jean Carmen abandonaram seu país e agora buscam meios de trazer o filho, Thiago, de 6 anos. Até o momento, o casal já conseguiu R$2.520,52
O medo de não sobreviver e a vontade de dar uma vida melhor para os seus familiares ultrapassa fronteiras, no sentido literal da palavra.
Após sete anos de colapso econômico, a crise migratória da Venezuela se tornou uma das maiores do mundo. Milhões de pessoas já foram embora. Até o final de 2020, cerca de 6,5 milhões fugiram, segundo a agência das Nações Unidas para os Refugiados.
Na fronteira entre Santa Elena de Uairén, cidade na Venezuela, e Pacaraima, município em Roraima, cerca de 750 pessoas atravessam para o lado brasileiro diariamente, carregando o que coube em malas e trazendo também expectativas: conseguir emprego e de uma nova vida no Brasil.
Abrigo em Campo Bom
Dentre estes números, está o Oscar José Reyes Centero que, em 2020, já na pandemia e com fronteiras fechadas, decidiu vir para o Brasil e tentar uma vida melhor, deixando sua parceira Jean Carmen Felicia Quijana Viña para trás, junto do filho pequeno, Thiago.
Seis meses após a vinda de Oscar, Jean Carmen, conseguiu vir para cá também. O venezuelano conta que, mesmo trabalhando informalmente, fazendo refeições a base de miojo e ovo, dormindo em cima das próprias roupas e sofrendo muito na mão de terceiros, nunca deixou de enviar dinheiro para a família que havia ficado no país de origem, nem nunca deixou de ligar para a mulher diariamente.
“Tua mulher não vai vir”, diziam à ele. “Eu já estava ficando louco”, comenta. Mas, do outro lado da linha, a venezuelana sonhava e guardava cada centavo que recebia, para ir de encontro à Oscar. Meses depois, em estrada clandestina, caminhando por dias sem parar, Jean Carmen conseguiu cruzar a fronteira e vir para o Brasil, porém Thiago, de 6 anos, precisou ficar na Venezuela, há 6.468 km de distância de Campo Bom, na cidade de Carúpano, com a avó Clelia Margarita Quijada Viña (no centro) e a tia Janeth González Quijada (à direita). “Eu cheguei muito mal, porque vim sem meu filho”, expressa.
Ao se mudarem para Goiânia, trabalhando em uma padaria, Jean Carmen aprendeu o português, depois de muito sofrer com isso. Após conhecerem uma alma generosa, ambos conseguiram emprego fazendo limpeza pós obras, acharam um imóvel e receberam doações de uma comunidade religiosa, como alguns móveis. Ao virem para o Sul, não aceitaram vender as doações que receberam, deixando para quem precisasse, vindo apenas com o que adquiriram por si próprios.
Milhas e milhas de distância
Atualmente, o casal vive no bairro Genuíno Sampaio, onde abriga outra família (um casal e uma criança pequena). Apesar das dificuldades vividas ao longo deste um ano e nove meses no Brasil, como semanas à base de pão, queijo, presunto e água, a compaixão foi maior e eles ajudam outra família de venezuelanos a viver, mesmo com o pouco que possuem e sem esperar nada em troca. “Nós temos cinco pessoas na casa e apenas duas cadeiras, mas pode nos faltar tudo, só não falta comida para a criança. Eu nem me preocupo comigo, posso ficar sem comer, mas a criança precisa comer, ele é prioridade”, diz Jean Carmen.
Já dizia a música A Dois Passos do Paraíso, sucesso dos anos 1980, “Longe de casa/ A mais de uma semana/ Milhas e milhas distantes/ Do meu amor”. Em meio a risadas e com um olhar otimista no rosto, as lágrimas apareceram. “Eu só quero conseguir trazer meu filho pra cá. Já estou há um ano sem poder tocar ele, abraçar ele. Mas sei que vamos conseguir”, diz a mãe, segurando o celular junto ao peito, com uma foto do filho na tela.
Ambos estão empregados, mas o que recebem vai parte para a família na Venezuela, parte para o aluguel e sustento da casa e das famílias residentes, sendo que o que sobra vai para as reservas da família. Com um olhar humilde, sorrindo mesmo na pior das dificuldades, a família pede ajuda para conseguir trazer o menino para junto deles.
Saiba como ajudar
“Tudo o que ganhamos e sobra, é guardado para a passagem de Thiago”, explica a mãe e faz uma pausa. As lágrimas tomam conta da sala de redação do AG. “Além de termos que enviar dinheiro para a Venezuela, para a minha família que está cuidando dele”, diz, pedindo desculpas pelo choro.
Para a viagem, na qual a mãe iria sozinha e que duraria em torno de 10 dias, pelos cálculos feitos, a família precisa de R$ 7 mil – cobrindo as passagens de avião, ônibus e possível alimentação no caminho. Até o momento, o casal já conseguiu R$2.520,52. Para ajudar, doe através do PIX: 603.102.710-02 (cpf) ou via transferência bancária: Agência: 0500 | Conta: 018056929-5 | Jean Carmen Felicia Quijana Viña.
“Nós estamos nos virando, para conseguir trazer ele [Thiago] para perto de nós”, completa Jean Carmen.