A agricultura familiar gera empregos, movimenta a economia e contribui para um futuro mais sustentável

Angélica Spengler/AG

Em 2050, seremos quase 10 bilhões de pessoas no mundo (passando das atuais 7,7 bilhões), de acordo com o relatório Perspectivas Mundiais de População 2019, da ONU. A projeção traz uma questão urgente: como alimentar tanta gente, de forma saudável, sem aumentar ainda mais a degradação ambiental? A resposta pode estar no trabalho de pequenos produtores rurais, de acordo com a ONU, que no ano passado lançou, com o apoio de 106 países, a Década da Agricultura Familiar (2019-2028), com objetivo de fortalecer a atividade em diversos países.

Segundo o Censo Agropecuário, a agricultura familiar é a base da economia de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes. O Brasil possui cerca de 4,3 milhões de estabelecimentos rurais que utilizam a terra para a agricultura familiar, ocupando uma área total de aproximadamente 80 milhões de hectares. Esse segmento produz 87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz e 21% do trigo do Brasil. Na pecuária, responde por 60% do leite, 59% dos suínos, 50% das aves e 30% dos bovinos.

Em Campo Bom três bairros – Barrinha, Quatro Colônias e Quatro Colônias Norte –, concentram a força produtiva que vem do campo. Conforme o chefe do Escritório da Emater/RS-Ascar no município, Claudinei Baldissera, existem em torno de 160 propriedades rurais, sendo que 80 famílias, em torno de 400 a 450 pessoas, exercem exclusivamente atividade agrícola, e, dependem da renda com a pecuária ou a agricultura. “Um dos diferenciais de Campo Bom é que aqui a agricultura é geradora de emprego, o que no passado não existia. Hoje além das famílias trabalharem na produção elas proporcionam a geração de postos de trabalho em agroindústrias. Atualmente cerca de 100 pessoas, além dos núcleos familiares, trabalham no setor com emprego formal”, afirmou Baldissera.

Variedades

O destaque do cultivo campo-bonense fica com a produção de hortaliças, que ocupa 40 hectares, seguida das de mudas, flores, milho, feijão, aipim além da psicultura e do gado de corte, que juntos totalizam uma área de 2.500 hectares de pequenos e médios produtores.

Tradição

Desde 2009, quando foi aprovada a lei que determina que, no mínimo, 30% do que é adquirido para a merenda nas escolas públicas deve ser comprado da agricultura familiar, o encontro da alimentação escolar com a produção familiar tem promovido uma verdadeira transformação, ao permitir que alimentos mais saudáveis e com forte apelo regional possam ser consumidos diariamente pelos alunos de todo país.

Parceiro da iniciativa desde o início Vanderlei Meurer, 42 anos, cresceu em meio às plantações, junto com os pais. Há 15 anos ele resolveu investir em uma propriedade no bairro Quatro Colônias Norte, onde produz hortaliças, citrus, feijão, aipim entre outras variedades. Desde 2010 ele é um dos produtores que fornece 25 gêneros alimentícios para a merenda escolar da rede municipal. Cerca de 90% das hortaliças e citrus produzidos na propriedade são destinados à merenda escolar. “A iniciativa abriu para os agricultores familiares um vasto espaço de comercialização que não existia antes. É uma garantia em tempos de crise que nosso trabalho terá destino certo”, revelou Meurer.

Além de garantir qualidade na merenda escolar, a medida movimenta a economia. “Em 2018, para se ter uma ideia, os produtores venderão R$ 420.000,00 e esse montante pode crescer. São cerca de 20 gêneros alimentícios produzidos e entregues pelos nossos agricultores”, Baldissera.

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