50 Tons de Pretas lançam o single “Dinheiro”

Rogério Soares

Com dois anos de existência, a banda 50 Tons de Pretas já acumula um repertório de músicas e representatividade tão diverso e impactante que parece já existir há muito mais tempo. É uma força que transcende a própria obra. Formada por Dejeane Arruée (vocal, trombone), Graziela Pires (vocal), Cassiano Locutor (percussão), Gustavo Nunes da Silva (violão), João Costa (bateria) e Vladimir Godoy (baixo), 50 Tons de Pretas mescla muito bem um apanhado de referências que traçam um diálogo aberto com o pop, o samba, o rock e a música popular brasileira como um todo. Neste universo não existe limites. Pelo contrário, quebram barreiras e paradigmas através da música e da mensagem. Necessária, digna e urgente, a banda dá voz a quem não tem e esperança para quem pode sim alcançar seus sonhos.

O impacto de Dejeane Arruée e Graziela Pires, protagonistas deste universo representativo, ultrapassa o próprio trabalho autoral que realizam. Além de grandes compositoras, musicistas e arranjadoras, ambas desenvolvem trabalhos como educadoras para crianças e adolescentes. Dejeane é professora de educação musical em escolas da rede pública de ensino. Graziela realiza trabalho clínico e de musicoterapia com crianças autistas. Inclusão é uma realidade pela música e pelo discurso. A soma do engajamento na educação e na sociedade, com o talento musical evidente, resulta num envolvimento pleno na arte que representam. O papel de educadoras reflete na maneira como conseguem trazer com naturalidade e leveza  temas sociais fortes e de reflexão. É uma música alegre, pra cima e dançante. Mas estão nas letras temas que envolvem as mulheres negras, o feminismo, a diferença de classes, a esperança de uma sociedade igualitária e o empoderamento da mulher. As Pretas, como são também conhecidas, estão aqui para entreter e fazer pensar. A arte é o fio condutor de um engajamento espontâneo de quem traz uma bagagem cultural e social própria e plural.

A música “Dinheiro”, de autoria de Laura Finochiaro e Leca Machado, ganha vida no arranjo de Dejeane e na interpretação junto com a Graziela e a banda. Há um equilíbrio em cada passagem de ritmo, por hora mais suaves e depois com a presença de elementos brasileiros do samba. Impossível não se contagiar pelas camadas percussivas do refrão. A cadência das Pretas atinge sua plenitude sabendo a hora certa de deixar a música crescer e acalmar para absorvemos a letra. É o momento de prestar atenção na mensagem, ouvir sobre a relação dúbia das pessoas com o dinheiro. Quem não gosta de dinheiro? Mas, até que ponto só ele importa? Ou, ainda, como cantam: na história da riqueza do homem, quando um ganha é porque o outro perdeu.

Uma série de reflexões muito bem ilustradas no videoclipe com animação e direção de Matheus Heinz. Nele, Dejeane e Graziela viram personagens de uma novela cheia de alegorias que ajudam a contar a história.

50 Tons de Pretas são muitas. São múltiplas na arte, na sociedade e na verdade. Uma entrega diferenciada de ritmos, sons e mensagens, oportunas para o presente e o futuro de todos nós.   

Realização Audio Porto

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